São Paulo, sexta, 30 de janeiro de 1998

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SUCESSÃO
Em AL, petista diz que se considera "doutor em movimento sindical" e que é preciso saber parar uma greve
Lula bate boca com radical de esquerda

CARLOS EDUARDO ALVES
enviado especial a Maceió e Aracaju


O primeiro cargo a gente nunca esquece. Luiz Inácio Lula da Silva provou, anteontem à noite em Maceió, que se orgulha de sua participação sindical. Criticado por uma militante do PSTU por sua ingerência "conciliadora" na greve dos petroleiros, em 1995, Lula perdeu a calma.
O debate seguia expondo as tradicionais divergências internas do PT, mas em clima calmo, quando uma militante do PSTU -partido que nasceu de um racha à esquerda do PT- atacou a tentativa de Lula de mediar aquela greve.
Lula, que ouvia sentado as perguntas vindas do auditório, levantou-se, irritado. "Inverdade é uma coisa que não vale em política."
A seguir, disse que "a única coisa em que me considero doutor é em movimento sindical" e passou ao discurso contra o sectarismo.
"O que é ser de esquerda? Tem gente que acha que é falar mais besteira do que os outros, fazer bravatas", declarou, despertando a atenção de uma platéia até então sonolenta.
Em tom professoral, Lula criticou os que vêem a greve como um instrumento que se esgota em si. "Greve não é uma questão de honra, e o sindicalismo tem de saber até que ponto uma paralisação deve ser levada."
Na argumentação sobre a hora certa de avançar e recuar, Lula citou como exemplo o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Ninguém é mais combativo e, ao mesmo tempo, mais habilidoso para negociar que o MST", afirmou.
Empolgado com a defesa da tese da moderação, Lula fez um último ataque aos radicais. "O que não é possível é levar o lema 'greve geral' até a derrota final."
PSB
Lula recebeu, em jantar depois do debate com a militância, o apoio de Ronaldo Lessa (PSB) à coligação entre petistas e socialistas na sucessão presidencial. Lessa disputará o governo alagoano em aliança com o PT.
"A maioria do PSB quer apoiar Lula, e não podemos dividir a esquerda", disse Lessa.
Lula passou a manhã de ontem concedendo entrevistas a rádios e TVs alagoanas e, depois, embarcou para Aracaju.
No aeroporto da capital de Sergipe, ganhou o aval do senador Antonio Carlos Valadares (PSB) à sua candidatura.
"O PSB não pode inventar um candidato, e Lula é o nosso caminho natural", afirmou Valadares, ajudando, dessa maneira, a abrir as portas do PSB ao petista.
O giro nordestino de Lula termina hoje em Salvador.



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