São Paulo, sexta, 30 de janeiro de 1998

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"GANGUE DA FARDA"
Policiais suspeitos de envolvimento com o crime organizado sofrerão devassa bancária e telefônica
Justiça quebra sigilo de 39 pessoas em AL

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

A Polícia Federal obteve ontem autorização judicial para fazer uma devassa fiscal, bancária e telefônica na vida de 39 pessoas (a maioria policiais militares e civis) suspeitas de envolvimento com o crime organizado em Alagoas.
O objetivo da PF é conseguir provas de que o dinheiro de roubos de carros e assaltos a bancos foi utilizado por empresários, juízes e políticos em campanhas eleitorais.
Ontem, a PF já manipulava relatórios das ligações telefônicas de alguns suspeitos. A polícia espera receber os extratos bancários e os dados da Receita Federal dos envolvidos em cinco dias.
Equipes lideradas por dois delegados especiais enviados a Maceió pelo diretor geral da PF, Vicente Chelotti, deixaram a capital com destino ao sertão e litoral sul do Estado para checar informações obtidas durante os depoimentos.
Em Barra de Santo Antônio (40 km ao sul de Maceió) foram localizados um carro queimado e uma ossada humana, mas não foram divulgados detalhes da operação.
Delegado depõe
O único delegado da Polícia Civil preso, Carlos Antônio Camilo Carvalho, suspeito de envolvimento em 22 assaltos a bancos, depôs ontem à Justiça. Outras seis pessoas acusadas no mesmo processo também depuseram.
Nervoso, o delegado chegou a chorar antes de prestar depoimento, que começou às 17h30 e não havia terminado até as 19h. Ele não quis falar com a imprensa.
Ontem, a Polícia Civil prendeu também Vinícios Andrade, advogado do coronel da PM Manoel Cavalcante, suspeito de ligações com o crime organizado.
A Justiça decretou prisão provisória de cinco dias depois que o advogado foi acusado pela polícia de ter coagido testemunhas, como o proprietário de um terreno comprado pelo coronel e supostamente pago com um carro roubado.
Segundo a polícia, o advogado e um policial militar, que também foi preso anteontem, chegaram a apontar um revólver para o proprietário do terreno. Ainda de acordo com a polícia, o dono do terreno está sendo ameaçado de morte e não pode sair de casa. Cinco policiais se revezam para manter sua segurança.
Das 39 pessoas denunciadas à Justiça como membros do crime organizado alagoano, 32 já estavam presas até o início da noite de ontem. Entre os detidos estão 23 oficiais, cabos, sargentos e soldados da PM, um delegado da Polícia Civil e oito desempregados, funileiros e mecânicos.
Segundo a polícia, o número de envolvidos no caso pode chegar a 50 pessoas.



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