São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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Delcídio articula amenização do texto

FERNANDA KRAKOVICS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Minutos antes do início da sessão de leitura do relatório final da CPI dos Correios, o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), combinou com parlamentares do PT uma estratégia para amenizar o documento apresentado pelo relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
A reunião ocorreu em uma sala anexa ao gabinete do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), que fica abaixo do plenário da CPI. No início estavam os deputados petistas Maurício Rands (PE) e José Eduardo Cardozo (SP), depois chegaram Jorge Bittar (RJ) e a senadora Ideli Salvatti (SC). O deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) participou dos momentos finais do encontro.
Até agora, o presidente da CPI, que é pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, vinha adotando uma posição de imparcialidade. A correlação de forças na comissão é apertada, e a votação do relatório final será decidida por um ou dois votos. Delcídio só vota em caso de desempate, mas é ele quem define os procedimentos de votação.
O primeiro passo seria tentar convencer Serraglio a modificar pontos do texto antes da votação, na próxima semana, sob ameaça de a base aliada derrubar o relatório apresentado ontem e aprovar um alternativo. Outra possibilidade é impedir a votação de um documento conclusivo.
Os governistas também tentarão uma saída negociada com a oposição, utilizando os mesmo argumentos. "Eles [PFL e PSDB] querem fazer o achincalhe", afirmou Delcídio na reunião fechada, à qual a Folha teve acesso.
O presidente da CPI fez essa afirmação ao relatar uma conversa com o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "Eu disse ao ACM Neto que todas as vezes em que radicalizaram eles se ferraram."
Foi marcada uma reunião para a noite de ontem entre Cardozo, Rands, ACM Neto e o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) para discutir os pontos que a base aliada quer alterar ou suprimir.
A oposição não está disposta a ceder por avaliar que o desgaste do governo será inevitável se tentar alterar o texto ou mesmo inviabilizar a votação de um documento conclusivo.
Os petistas e seus aliados, por sua vez, vão tentar jogar a responsabilidade pela eventual inviabilização da CPI para a oposição, afirmando que eles radicalizaram e foram intransigentes.
"A idéia é a seguinte: nós temos divergências tópicas com o "mensalão" e os indiciamentos. Depois de terça-feira nós sentamos e trabalhamos em cima de um esqueleto", afirmou Delcídio a seus colegas de partido.
Nessa reunião, Delcídio ensaiou até o que diria dizer ao abrir a sessão da comissão. Ele contou aos parlamentares petistas que afirmaria que "nenhum parlamentar viu esse relatório" até ele ser lido por Serraglio e que sua discussão só seria feita a partir da próxima terça-feira.
Delcídio também disse a seus colegas de partido que, em seu discurso, afirmaria que "a CPI tem que dar uma resposta à sociedade" e que "se derrubarmos esse relatório ninguém ganha".
Ao abrir a sessão, o presidente da CPI seguiu o roteiro. "Todos os parlamentares da CPI estão tomando conhecimento do relatório agora", afirmou ele em seu discurso. "Se não sairmos com um relatório quem perde é o país", acrescentou.
Em seu discurso, Delcídio deixou claro que o documento lido ontem não será o aprovado pela CPI da forma como está. "Esse relatório vai passar por análise. É evidente que esse texto pode sofrer modificações que o próprio regimento determina", disse ele. "Hoje [ontem] é o relatório do Osmar Serraglio, mas ao longo dos dias será discutido à exaustão", afirmou o petista.


Leia a íntegra do relatório na http://www.folha.com.br/060883


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