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RECEITA FEDERAL/SIGILO VIOLADO
Órgão investiga crime, mas não diz quantas pessoas tiveram o sigilo quebrado; presidente do BC e Marcos Valério estão entre as vítimas
Receita violou dados de 6.000 contribuintes
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O caseiro Francenildo dos Santos Costa não é a única vítima de
violação criminosa de dados sigilosos sob proteção do Estado. A
Corregedoria da Receita Federal
investiga um caso envolvendo a
suspeita de acesso irregular aos
dados fiscais de cerca de 6.000
pessoas físicas e jurídicas. A lista
de vítimas inclui juízes, desembargadores, jornalistas, empresários e autoridades do governo.
A investigação foi aberta há
pouco mais de um mês. Os primeiros resultados revelam que a
lista de contribuintes que tiveram
os seus sigilos supostamente bisbilhotados inclui, por exemplo, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles; o deputado e
ex-ministro das Comunicações
Eunício Oliveira (PMDB-CE); o
empresário Marcos Valério e as
agências SMPB e a DNA.
A relação inclui também pelo
menos 11 juízes da Justiça Federal
de Brasília e o procurador-geral-adjunto da Fazenda Nacional Tadeu Alencar. Tem ainda os nomes
do ex-secretário da Receita Everardo Maciel, de sua empresa (Logus Consultoria) e de sua família.
Há quatro processos disciplinares abertos na Corregedoria da
Receita, onde trabalhavam os três
investigados pela violação dos sigilos. A corregedoria não tem poderes para conduzir ações fiscais.
Realiza apenas correções funcionais, para apurar delitos praticados por funcionários da própria
Receita. Mesmo nos casos que envolvem investigações de servidores, o acesso aos dados fiscais precisa ser justificado.
Quanto aos contribuintes que
nada têm a ver com a estrutura
funcional da Receita, os agentes
da corregedoria não tinham poderes para pescar-lhes os dados
fiscais no sistema. A bisbilhotice é
expressamente desautorizada por
lei. Deparando-se com alguma irregularidade praticada por um
desses contribuintes, os auditores
poderiam, no máximo, comunicar à Receita, que investigaria.
A pena para o "acesso imotivado" aos computadores da Receita
é a demissão por justa causa. Se ficar comprovado o vazamento dos
dados para a imprensa, como
aconteceu no caso do empresário
Marcos Valério, os responsáveis
estão sujeitos a processos civis e
criminais que podem levar à pena
de prisão de um a quatro anos.
A corregedoria será obrigada a
informar aos 6.000 contribuintes
bisbilhotados que os seus dados
foram violados indevidamente. A
União estará sujeita a eventuais
ações de reparação por danos
morais. Espera-se concluir as investigações em 120 dias.
"Acessos indevidos"
A Receita Federal confirmou
ontem, em nota oficial, a realização das investigações pela corregedoria do órgão. O texto evita
comprometer-se com o número
de 6.000 acessos irregulares, obtido pela Folha.
Anota que "apenas ao final das
investigações é que poderá identificar a quantidade de eventuais
acessos indevidos." A reportagem
tentou falar com os três funcionários acusados em processos disciplinares abertos na Corregedoria
da Receita de terem acessado irregularmente dados fiscais de contribuintes. Não conseguiu.
A assessoria de imprensa da Receita Federal informou que os três
estão lotados na Delegacia da Receita em Brasília e por isso não teria como fazer contato com eles.
A Delegacia da Receita confirmou que os auditores estão lotados no órgão, mas como os processos investigam atos cometidos
quando os funcionários atuavam
na Corregedoria, quem deve tratar do assunto é a própria Corregedoria, informou a Delegacia da
Receita em Brasília.
Josias de Souza escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" no endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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