Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para diretor, "investidor
não gosta de mudança"
DE WASHINGTON
O chileno Tulio Vera, diretor de
pesquisas de renda fixa para mercados emergentes do banco de investimentos Merrill Lynch, nega
que seus relatórios sobre mercados emergentes sejam "ameaça à
democracia" ou instrumentos de
"terrorismo eleitoral".
Vera é o principal autor de um
dos relatórios divulgados ontem
em Wall Street rebaixando a recomendação para a dívida brasileira
devido ao aumento dos índices do
candidato do PT à Presidência.
Vera afirma que uma eventual
vitória de Lula não seria necessariamente catastrófica para os
mercados, mas diz acreditar que o
pré-candidato do PSDB, José Serra, é o favorito "porque o eleitorado brasileiro é conservador".
Folha - O relatório do Merrill
Lynch dá a impressão de que, para
os clientes de seu banco, o Brasil
estaria melhor se não tivesse democracia nem eleições. O sr. acha
essa impressão justa?
Tulio Vera - Não gostaria de imaginar que nosso relatórios ameaçam a democracia. Só queremos
antecipar como investidores vão
reagir a diferentes fatos e eventos.
Isso não afronta a democracia
nem influencia o debate eleitoral.
Folha - Mas antecipar a lógica de
Wall Street parece ser fácil, já que a
perspectiva de vitória eleitoral de
qualquer candidato de esquerda
tende a conturbar os mercados.
Tulio Vera - Não é tão simples assim. Na verdade, investidores não
gostam de mudança. Um ótimo
exemplo foi dado há dois anos
durante as eleições mexicanas.
Havia duas alternativas: manter o
PRI no poder ou ir para a direita
com Vicente Fox. Não havia candidatos da esquerda. Foi uma situação ideal para os mercados.
No entanto, quando ficou aparente que Fox ganharia, investidores
reagiram mal porque demonstraram que não queriam mudança.
No Brasil é mais complicado ainda porque estamos lidando com
um candidato da esquerda.
Folha - O sr. acha que Serra pode
ganhar?
Vera - Essa é a terceira eleição
presidencial no Brasil que acompanho de Nova York. A tendência
é o candidato oficial subir nos
próximos meses e consolidar-se
com a exposição na TV. Mas o objetivo de nosso relatório não é defender candidatos, mas sim antecipar a tendência dos mercados.
Folha - O sr. diz antecipar a tendência dos mercados, mas seus relatórios acabam agindo nos mercados. Parece um círculo vicioso.
Vera - Não chamaria esse processo de círculo vicioso. Tipicamente, gostaríamos de antecipar
os mercados. Nesse caso, reconheço que estamos nos expressando junto com os mercados.
Texto Anterior: Mercado da Sucessão: "Fator Lula" leva bancos a rebaixarem país Próximo Texto: Grafite Índice
|