São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para diretor, "investidor não gosta de mudança"

DE WASHINGTON

O chileno Tulio Vera, diretor de pesquisas de renda fixa para mercados emergentes do banco de investimentos Merrill Lynch, nega que seus relatórios sobre mercados emergentes sejam "ameaça à democracia" ou instrumentos de "terrorismo eleitoral".
Vera é o principal autor de um dos relatórios divulgados ontem em Wall Street rebaixando a recomendação para a dívida brasileira devido ao aumento dos índices do candidato do PT à Presidência.
Vera afirma que uma eventual vitória de Lula não seria necessariamente catastrófica para os mercados, mas diz acreditar que o pré-candidato do PSDB, José Serra, é o favorito "porque o eleitorado brasileiro é conservador".
 

Folha - O relatório do Merrill Lynch dá a impressão de que, para os clientes de seu banco, o Brasil estaria melhor se não tivesse democracia nem eleições. O sr. acha essa impressão justa?
Tulio Vera -
Não gostaria de imaginar que nosso relatórios ameaçam a democracia. Só queremos antecipar como investidores vão reagir a diferentes fatos e eventos. Isso não afronta a democracia nem influencia o debate eleitoral.

Folha - Mas antecipar a lógica de Wall Street parece ser fácil, já que a perspectiva de vitória eleitoral de qualquer candidato de esquerda tende a conturbar os mercados.
Tulio Vera -
Não é tão simples assim. Na verdade, investidores não gostam de mudança. Um ótimo exemplo foi dado há dois anos durante as eleições mexicanas. Havia duas alternativas: manter o PRI no poder ou ir para a direita com Vicente Fox. Não havia candidatos da esquerda. Foi uma situação ideal para os mercados. No entanto, quando ficou aparente que Fox ganharia, investidores reagiram mal porque demonstraram que não queriam mudança. No Brasil é mais complicado ainda porque estamos lidando com um candidato da esquerda.

Folha - O sr. acha que Serra pode ganhar?
Vera -
Essa é a terceira eleição presidencial no Brasil que acompanho de Nova York. A tendência é o candidato oficial subir nos próximos meses e consolidar-se com a exposição na TV. Mas o objetivo de nosso relatório não é defender candidatos, mas sim antecipar a tendência dos mercados.

Folha - O sr. diz antecipar a tendência dos mercados, mas seus relatórios acabam agindo nos mercados. Parece um círculo vicioso.
Vera -
Não chamaria esse processo de círculo vicioso. Tipicamente, gostaríamos de antecipar os mercados. Nesse caso, reconheço que estamos nos expressando junto com os mercados.


Texto Anterior: Mercado da Sucessão: "Fator Lula" leva bancos a rebaixarem país
Próximo Texto: Grafite
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.