São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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MERCADO DA SUCESSÃO

Merrill Lynch e Morgan Stanley, dos EUA, apresentam subida de petista como elemento de incerteza

"Fator Lula" leva bancos a rebaixarem país

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Os bancos de investimento norte-americanos Merrill Lynch e Morgan Stanley Dean Witter rebaixaram sua recomendação para negócios com títulos da dívida brasileira. Um dos principais motivos foi um suposto aumento da taxa de risco do país devido ao crescimento do pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nas pesquisas de intenção de voto.
Os dois bancos sugeriram aos seus clientes que reduzam investimentos em papéis da dívida do país para a "média de mercado". Antes, as duas instituições recomendavam aos investidores que mantivessem títulos do país em volumes "acima do mercado".

Justificativa
O Morgan Stanley justificou sua decisão com o argumento de que os índices de Lula nas pesquisas aumentaram, assim como a distância entre ele e o virtual candidato do PSDB à Presidência, o senador José Serra.
"Caso Serra não consiga se separar convincentemente nas pesquisas do resto do grupo de candidatos, o PSDB poderá sofrer pressão para considerar alternativas para sua candidatura", avaliam os analistas do banco que redigiram o relatório.
No relatório do Merrill Lynch, a subida do pré-candidato do PT nas pesquisas é mencionada como o maior fator doméstico de incerteza para o mercado.
"Na nossa opinião, um horizonte melhor só virá quando investidores obtiverem mais evidências de uma perspectiva benigna com relação a dois assuntos: a retomada sustentável de cortes na [taxa de juros" Selic e a redução da diferença entre Lula e Serra nas pesquisas", afirma o relatório.
Esse relatório também citou a perspectiva de redução do fluxo de capital para países emergentes e o preço do petróleo como fatores que determinaram a decisão.
As novas recomendações dos dois bancos constam dos boletins diário e semanal enviado por eles a seus clientes, que podem adotá-las ou não.
Se decidirem aceitá-las, os investidores com grande exposição no Brasil venderão títulos brasileiros para adaptarem-se à nova sugestão.
Em tese, isso poderia pressionar para baixo o preço desses papéis, obrigando o país a aumentar as taxas de juros para manter os investimentos no país. Taxas altas de juros tendem a desaquecer a economia e elevam o peso da dívida pública brasileira.

Associação
No entanto, não se pode dar a esses boletins a mesma importância das revisões de crédito anunciadas regularmente por agências como Moody's, Standard & Poor's e Fitch, que são especializadas em classificar risco e cujas decisões são seguidas por vários fundos de investimentos.
Diferentemente dessas agências, as recomendações dos bancos têm um horizonte de curto prazo e mudam constantemente.
A importância dos dois relatórios divulgados ontem é que, pela primeira vez no atual processo eleitoral, bancos de investimentos apontam expressamente o risco de vitória de um candidato específico como motivo para rebaixar a recomendação de investimentos no Brasil.
A Moody's e a Standard & Poor's informaram ontem à Folha que suas classificações de risco não são e não serão afetadas por pesquisas eleitorais.
No entanto, reconhecem que o cenário político de longo prazo no país é um fator importante. "O que observamos são as perspectivas de longo prazo para a estabilidade política e para a execução das reformas depois das eleições", afirmou Ernesto Martinez-Alas, analista senior da Moody's para o Brasil.



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