São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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Empresários criticam "precipitação" de bancos

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários consideraram "precipitado" e "sem fundamento" o rebaixamento da classificação dos títulos da dívida brasileira atribuído pelos bancos de investimento Merrill Lynch e Morgan Stanley ao crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas.
"Acho uma precipitação muito grande", diz Alfried Ploger, presidente da Abrasca (associação das empresas com ações em Bolsa). "Com os acontecimentos mundiais, todos os que trabalham com "rating" [avaliação de risco] estão tão apavorados que é mais fácil colocar o "rating" para baixo", diz.
"Está certo que Lula está crescendo e que a saída da Roseana [Sarney] trouxe alguma insegurança, principalmente para quem não está no Brasil", diz Ploger. "O dinheiro é uma das coisas mais covardes do mundo, é natural, não devemos nos assustar", diz.
Para Henrique Meirelles, presidente mundial do BankBoston, é natural que as incertezas do cenário eleitoral causem uma preocupação maior. "Isso não quer dizer, na minha opinião, que seja uma preocupação direta com o Lula, mas com o desconhecido, seja o Lula ou seja qualquer um. Parece-me normal que as pessoas se preocupem, até porque as discussões eleitorais no Brasil não são muito claras", disse Meirelles.
O auditor Antoninho Marmo Trevisan acha que "não é razoável" relacionar pesquisa eleitoral com avaliação de risco. "Lula já declarou que não vai romper contratos. O fato grave é o crescimento da dívida interna. Qualquer que seja, o novo governo terá que tomar medidas. E, para isso, não precisaríamos nem trocar de presidente", diz o auditor.
Para Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, a reclassificação é apenas "um ajuste de avaliações precipitadas". "Não tem nada a ver com o fato de a oposição estar com índice de aceitação melhor", diz.
"A credibilidade dessas análises pode ser medida pela avaliação recente que fizeram da Argentina, colocada acima do Brasil", diz. Pih lembra que esses analistas "elevaram o nível do Brasil em função dos números macros, que não foram cautelosamente nem criteriosamente avaliados", diz.
"O quadro geral macroeconômico -e não eleitoralmente- é bem pior do que antes, tanto no Brasil como no exterior", diz.
Para o consultor Flávio Corrêa, ex-presidente da Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), "qualquer partido que assumir não provocará ruptura com os compromissos do país no exterior, pois não há clima para radicalismo". "Não vejo nenhum risco brasileiro. Esse tipo de comentário é antidemocrático", diz.
Artur Quaresma Filho, presidente do Sinduscon-SP (construção), acha que é prematura qualquer opinião sobre a subida de Lula nas pesquisas eleitorais.
O secretário-geral da CUT, Carlos Alberto Grana, classificou o rebaixamento de "terrorismo". "É inaceitável criar um clima desfavorável à candidatura de Lula."


Colaboraram ÉRICA FRAGA, CLÁUDIA ROLLI E FÁTIMA FERNANDES, da Reportagem Local



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