São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Diretriz aprovada ontem permite coligações com partidos mensaleiros como PP, PTB e PL

PT atende a Lula e concede liberdade total para alianças

Caio Guatelli/Folha Imagem
Os petistas Valter Pomar (esq.) e Ricardo Berzoini, que será o coordenador-geral da campanha


FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT aprovou ontem uma política de alianças ampla, que inclui a possibilidade de coligações com os partidos mais identificados com o escândalo do mensalão (PP, PTB e PL), além do PMDB.
Vetadas estão apenas alianças com PFL e PSDB, os dois principais partidos de oposição, que na prática já estavam excluídos em razão da verticalização.
O PPS, que discute o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entrou numa categoria especial -não há veto total, mas "forte restrição".
O 13º Encontro Nacional também confirmou o presidente do partido, Ricardo Berzoini, como coordenador-geral da campanha.
A decisão de liberar coligações com legendas claramente de direita, como o PP (sucessor da Arena, partido de sustentação do regime militar) veio um dia depois de um duro discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos 1.200 delegados do encontro.
Em tom de cobrança, por vezes dando uma bronca no partido, Lula pediu que os "companheiros" cedam espaço para outras legendas nos Estados e montem palanques grandes, pensando sempre no projeto nacional. O PT tende a ter candidatura própria em 20 Estados, mesmo em locais em que o partido é quase "nanico", como Alagoas e Paraíba.
Na diretriz aprovada ontem, a direção petista fez uma pequena concessão a alguns agrupamentos de esquerda, que estavam preocupados em evitar um "vale-tudo" nos Estados. Por isso, caberá ao diretório nacional dar a última palavra sobre essas coligações. A idéia inicial era dar autonomia completa aos diretórios locais.
"É importante que se constituam alianças com partidos que integram a base de apoio do governo, bem como com partidos que não integram a base, mas que nos Estados são aliados das forças democráticas e populares e adversárias do PSDB e PFL, núcleo da oposição conservadora que devemos derrotar", afirma a diretriz.
O trecho que menciona siglas que não integram a base, mas podem ser aliados locais é uma referência a PDT e PV.
Em outra concessão a grupos como Articulação de Esquerda ("radical") e Movimento PT ("centrista"), a diretriz aprovada pede uma "governabilidade de novo tipo" em um hipotético segundo mandato de Lula, com "maior incidência do PT e demais partidos de esquerda". Isso poderá abrir caminho para o PT se apoderar ainda mais da administração federal a partir de 2007.
A autorização para coligações amplas foi aprovada por cerca de 80% do partido. Ficaram contra apenas a Democracia Socialista (DS, a segunda corrente interna mais importante) e a minúscula O Trabalho, de extrema-esquerda. Essas correntes defendiam aliança apenas com partidos de esquerda, como PSB e PC do B.
A ordem no PT é de pragmatismo. Mesmo o veto explícito a tucanos e pefelistas não significa que alianças brancas em alguns Estados não sejam toleradas. Em Sergipe, por exemplo, o petista Marcelo Déda disputará o governo e quer Albano Franco (PSDB) como candidato ao Senado. No final da tarde, o governo quase foi surpreendido com uma moção pedindo a anulação da privatização da Vale do Rio Doce, ocorrida em 1997. O quórum baixo por pouco não levou à aprovação da emenda, rejeitada por 358 a 305.

Descanso
Depois de visitar uma feira de habitação, inaugurar o depósito das Casas Bahia em São Bernardo e de discursar no encontro do PT, Lula vai passar o fim de semana no litoral paulista. O presidente chegou na manhã de ontem ao Forte dos Andradas, área restrita ao Exército, no Guarujá.

Colaborou a Agência Folha, em Guarujá

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