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Empresa de laranja operou com outro banco
Assessoria de crédito em nome de ex-babá de João Carlos Zoghbi, ex-diretor do Senado, também atuou com o Santander
Santander confirmou que usou, até março de 2007, serviços da Contact, que intermediava empréstimo consignado de servidores
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para atuar no bilionário mercado de empréstimo em folha
de pagamento do Senado, o
banco Santander também usou
os serviços da Contact Assessoria de Crédito Ltda., empresa
que tem sócios laranjas indicados pelo ex-diretor de Recursos
Humanos João Carlos Zoghbi.
Até então, sabia-se apenas
que o banco Cruzeiro do Sul havia credenciado a Contact como sua correspondente no Senado. O Painel informou ontem que a Contact atuava como
correspondente bancária de oito instituições financeiras.
A empresa, cuja sócia majoritária é a ex-babá e ama de leite de Zoghbi, recebeu R$ 2,3
milhões do Cruzeiro do Sul por
serviços prestados ao Senado,
segundo revelou reportagem
da revista "Época".
O ex-diretor de Recursos
Humanos colocou a Contact
em nome da empregada doméstica Maria Izabel Gomes,
83. Seu objetivo foi ocultar os
filhos como verdadeiros donos
da empresa, que, teoricamente,
atuava como corretora na Casa.
À revista "Época" Zoghbi admitiu que colocou a empresa
no nome de laranjas porque
havia conflito de interesses e
que essa história o comprometia. A reportagem não conseguiu localizá-lo ontem.
Por meio de sua assessoria, o
Santander confirmou que utilizou os serviços da Contact até
março de 2007. O banco, no entanto, não quis dizer quanto
pagou à empresa.
"As informações de contratos do banco com terceiros são
confidenciais, razão pela qual o
banco não se pronunciará sobre o assunto", diz a nota encaminha por e-mail à Folha.
No Senado, 36 instituições
financeiras mantêm convênio
com a Casa para operar no
mercado de empréstimo consignado, num negócio que movimentou R$ 1,2 bilhão nos últimos três anos.
No site da Secretaria de Recursos Humanos, é possível fazer simulações de empréstimos para saber qual instituição
oferece as melhores taxas.
Anteontem, a Folha pediu
para uma corretora fazer uma
simulação de empréstimo de
R$ 1.000. O resultado mostrou
14 bancos em condições de
atender à demanda.
Diretor até março deste ano,
Zoghbi tinha informações privilegiadas sobre servidores.
Além disso, ele era o principal
gestor de todos os convênios
com os bancos.
De acordo com ato da Mesa
Diretora de 2005, ao tomar um
empréstimo consignado, o servidor só pode ter comprometido 30% do seu salário mensal.
O percentual repete o que determina o decreto presidencial
que regulamenta consignações
em folha de pagamento para
servidores do Executivo.
No Senado, porém, Zoghbi liberava margens acima do teto,
o que, na prática, acabava gerando mais lucro para as instituições financeiras envolvidas
no negócio.
A servidora aposentada Lidia
Marieta Bentes Carreira Evangelista é um exemplo. Seu nível
de endividamento era tamanho
que ela acabava ficando sem salário. Lidia fez empréstimos
com os bancos Cruzeiro do Sul
e Bancred.
No dia 7, a juíza Cristiane
Rentzsch, da Justiça Federal
em Brasília, concedeu liminar
obrigando o Senado a descontar apenas 30% do salário de
Lidia. A decisão foi tomada depois que ela ingressou com um
mandado de segurança.
Anteontem o diretor-geral
do Senado, Alexandre Gazineo,
afirmou que há outros casos
como o de Lidia. "Já estamos
sabendo de outros mandados
de segurança sobre o mesmo
assunto", disse. "Se ultrapassar
o limite de 30%, não deveria ter
sido concedido [empréstimo]."
A Folha apurou que, além de
facilitar a realização de empréstimos consignados no Senado, Zoghbi tentou criar um
cartão de crédito, a ser administrado pelo banco Cruzeiro
do Sul, para servidores da Casa.
No ano passado, ele levou a
proposta a integrantes da Mesa, mas a ideia não vingou.
Colaborou ANDREZA MATAIS, da Sucursal de Brasília.
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