São Paulo, quinta-feira, 30 de abril de 2009

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Empresa de laranja operou com outro banco

Assessoria de crédito em nome de ex-babá de João Carlos Zoghbi, ex-diretor do Senado, também atuou com o Santander

Santander confirmou que usou, até março de 2007, serviços da Contact, que intermediava empréstimo consignado de servidores


ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para atuar no bilionário mercado de empréstimo em folha de pagamento do Senado, o banco Santander também usou os serviços da Contact Assessoria de Crédito Ltda., empresa que tem sócios laranjas indicados pelo ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi.
Até então, sabia-se apenas que o banco Cruzeiro do Sul havia credenciado a Contact como sua correspondente no Senado. O Painel informou ontem que a Contact atuava como correspondente bancária de oito instituições financeiras. A empresa, cuja sócia majoritária é a ex-babá e ama de leite de Zoghbi, recebeu R$ 2,3 milhões do Cruzeiro do Sul por serviços prestados ao Senado, segundo revelou reportagem da revista "Época".
O ex-diretor de Recursos Humanos colocou a Contact em nome da empregada doméstica Maria Izabel Gomes, 83. Seu objetivo foi ocultar os filhos como verdadeiros donos da empresa, que, teoricamente, atuava como corretora na Casa. À revista "Época" Zoghbi admitiu que colocou a empresa no nome de laranjas porque havia conflito de interesses e que essa história o comprometia. A reportagem não conseguiu localizá-lo ontem.
Por meio de sua assessoria, o Santander confirmou que utilizou os serviços da Contact até março de 2007. O banco, no entanto, não quis dizer quanto pagou à empresa. "As informações de contratos do banco com terceiros são confidenciais, razão pela qual o banco não se pronunciará sobre o assunto", diz a nota encaminha por e-mail à Folha.
No Senado, 36 instituições financeiras mantêm convênio com a Casa para operar no mercado de empréstimo consignado, num negócio que movimentou R$ 1,2 bilhão nos últimos três anos. No site da Secretaria de Recursos Humanos, é possível fazer simulações de empréstimos para saber qual instituição oferece as melhores taxas. Anteontem, a Folha pediu para uma corretora fazer uma simulação de empréstimo de R$ 1.000. O resultado mostrou 14 bancos em condições de atender à demanda.
Diretor até março deste ano, Zoghbi tinha informações privilegiadas sobre servidores. Além disso, ele era o principal gestor de todos os convênios com os bancos.
De acordo com ato da Mesa Diretora de 2005, ao tomar um empréstimo consignado, o servidor só pode ter comprometido 30% do seu salário mensal. O percentual repete o que determina o decreto presidencial que regulamenta consignações em folha de pagamento para servidores do Executivo.
No Senado, porém, Zoghbi liberava margens acima do teto, o que, na prática, acabava gerando mais lucro para as instituições financeiras envolvidas no negócio. A servidora aposentada Lidia Marieta Bentes Carreira Evangelista é um exemplo. Seu nível de endividamento era tamanho que ela acabava ficando sem salário. Lidia fez empréstimos com os bancos Cruzeiro do Sul e Bancred.
No dia 7, a juíza Cristiane Rentzsch, da Justiça Federal em Brasília, concedeu liminar obrigando o Senado a descontar apenas 30% do salário de Lidia. A decisão foi tomada depois que ela ingressou com um mandado de segurança.
Anteontem o diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, afirmou que há outros casos como o de Lidia. "Já estamos sabendo de outros mandados de segurança sobre o mesmo assunto", disse. "Se ultrapassar o limite de 30%, não deveria ter sido concedido [empréstimo]."
A Folha apurou que, além de facilitar a realização de empréstimos consignados no Senado, Zoghbi tentou criar um cartão de crédito, a ser administrado pelo banco Cruzeiro do Sul, para servidores da Casa. No ano passado, ele levou a proposta a integrantes da Mesa, mas a ideia não vingou.
Colaborou ANDREZA MATAIS, da Sucursal de Brasília.



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