São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
A nova colaboração

A mais nova iniciativa das ""notáveis criatividade e presteza do governo FHC para cuidar do interesse de uma minoria de grandes empresas", como disse editorial na Folha de ontem, é o uso de bilhões públicos, outra vez, para atender a conveniências políticas do governo, e não a necessidades da economia nacional.
No começo de março, uma pequena nota informava que uma grande empresa sediada no bairro do Jardim Botânico, Rio, estava pretendendo US$ 2 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A pretensão não estava formalizada, nem consta que tenha sido mais tarde. O BNDES criou uma fórmula apresentável como uma oferta sua, espontânea, para uma centena de empresas endividadas por empréstimos tomados no exterior.
O grande montante na relação dos beneficiários criada pelo BNDES é a combinação Globo Comunicações/Net, com perto de US$ 1,5 bilhão na operação em que o BNDES faz, com os credores externos, a renovação das dívidas, em troca se tornando garantidor do pagamento e dos juros.
Requinte do uso do Estado, dito sem recursos para o fundamental, em benefícios privados é a inclusão, na lista disfarçante do BNDES, de bancos estrangeiros, até credores do Brasil e de algumas das empresas que, juntamente com eles, são privilegiadas na nova operação.
Como não podia faltar, também, a costumeira demonstração de que os negócios comandados pelo governo estão mais para negociatas do que para negócios, a generosidade do BNDES tanto inclui bancos que passaram por intervenção e venda forçada, como outros, também saneados à maneira do governo, com os bilhões do Proer.
Sairia mais barato e menos inescrupuloso a concessão do empréstimo que motivou todo esse mascaramento. Mas o BNDES, nos últimos anos, tornou-se, mesmo, agente de operações desse tipo.

Para todos
Caso o Ministério da Aeronáutica relacione com seriedade os usos de aviões da FAB por integrantes do governo, os procuradores da República que fizeram o pedido, Luiz Francisco Fernandes de Souza e Guilherme Schelb, terão iniciado uma providência mais do que necessária. A prestação de serviços impróprios para ter, como compensação, melhores verbas não é própria de uma Força Aérea.
Própria do pessoal da Presidência da República é a explicação, mais uma, para o turismo de Clóvis Carvalho e companhias em avião da FAB: o ministro viajou porque não existe dispositivo que regulamente os vôos de autoridades federais em aviões da FAB.
Então, amanhã de manhã, um helicóptero da FAB lá em frente de casa para me trazer ao Santos Dumont. E, aí, um avião à minha espera. Porque também inexiste dispositivo que regulamente, ou impeça, vôos de cidadãos de fora do governo em aviões da FAB.
Quando a explicação da Presidência da República é pobre de inteligência, vá lá. Mas, com raras exceções, é também rica em cinismo.


Texto Anterior: Saiba quem apostou contra o real e ganhou milhões
Próximo Texto: No Ar - Nelson de Sá: Embate
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.