São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2004

Caso de São Paulo, em que o partido não quis ceder vice ao PMDB, é emblemático, e só PC do B é aliado constante

PT continua arredio a alianças eleitorais

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do PT decidiu ampliar o leque das alianças para as eleições municipais, como fez em 2002 ao integrar o PL na chapa presidencial. O resultado, porém, foi tímido. Fechado o mapa das capitais, a contabilidade revela que a sigla permanece refratária a alianças nas quais não detenha a cabeça da chapa.
Faltando pouco mais de quatro meses para as eleições, o PT já definiu candidatos em 25 delas. Na maioria, o PC do B, aliado tradicional, é o principal partido coligado ao PT -estão juntos em 19 capitais. O PMDB, aposta da cúpula petista para dar capilaridade ao partido, efetivamente negocia uma coligação em Curitiba. Mas pode ainda se coligar ao PT em Palmas (TO) e João Pessoa (PB). É pouco e demonstra que a recusa de Marta Suplicy em ter como vice o peemedebista Michel Temer é a regra, não a exceção.
Em Fortaleza (CE), aliança radical impediu a coligação com Inácio Arruda (PC do B), o candidato mais bem posicionado nas pesquisas, ao contrário do que desejava e deseja a cúpula.
A direção conseguiu se impor em Manaus (AM), onde os petistas locais advogavam candidatura própria, mas acabaram aceitando indicar o vice de Vanessa Graziotin (PC do B). Em Boa Vista (RR), o PT está entre apoiar a reeleição de Teresa Jucá (PPS) e Lurdinha Carneiro, pré-candidata do PSB.
Na eleição, ruiu a aliança costurada por Lula para dar sustentação política ao governo no Congresso. O próprio PC do B terá candidatos em quatro capitais, em algumas delas contra o PT, caso do Rio. O PMDB já definiu 13 pré-candidatos, o PP, nove, o PSB, 21, e o PTB, 14, sendo um deles Cristiane Brasil, filha do presidente da sigla, Roberto Jefferson (RJ).
Das quatro coligações já definidas pelo PSB até agora, só uma é com o PT, número igual nas sete alianças acertadas pelo PTB. Mas todos esses números ainda podem sofrer grande alteração, uma vez que os partidos têm prazo de 10 de junho a 30 de junho para fazer as convenções que oficializarão candidatos e coligações.
A eleição de Maceió (AL) é exemplar: com a desistência do senador Teotonio Vilela Filho (PSDB), desfez-se a anunciada aliança entre os tucanos e o PMDB. O líder peemedebista Renan Calheiros poderia migrar para a candidatura do petista Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, ou do candidato do PSB, Alberto Sexta-Feira Cavalcante. Hoje, estuda também apoiar o candidato do PPS, Regis Cavalcante. A direção do PT já cogita tirar Paulão da disputa, para coligar-se ao PSB.
Outra eleição em mutação é a de São Luís (MA). Os Sarney estavam fechados com Ricardo Murad (PSB), cunhado de Roseana. O racha dos Murad com o governador José Reinaldo (PFL) levou a família a repensar a candidatura.
A direção do PT percebe o que está em jogo e recorre a todo tipo de convencimento. Pressiona ministros e afilhados de políticos em cargos públicos. Casos de Porto Velho (RO), onde o PT precisa do PMDB de Amir Lando (Previdência), e de Curitiba (PR), onde Eduardo Campos (Comunicações) e o presidente de Itaipu, Jorge Samek, foram convocados para tentar retirar as candidaturas de PSB e PPS, respectivamente.
Não é pouca coisa em jogo. Haverá eleição para prefeito em 5.568 municípios, sendo 237 deles com mais de 100 mil habitantes, e 61 com mais de 200 mil habitantes e um eleitorado que corresponde a 33,47% do eleitorado brasileiro, segundo levantamento da Patri, empresa de consultoria de Brasília especializada na área.
Por mais que negue um caráter plebiscitário à eleição, a cúpula petista se prepara para enfrentar um julgamento do governo Lula nos grandes centros urbanos.
Será o primeiro teste eleitoral do governo após a vitória de 2002, especialmente em São Paulo, onde o PSDB chama a disputa de "o 3º turno". Nele, o PT entra na campanha sem sua marca registrada: o discurso da mudança e da moralidade, desgastado pela ortodoxia econômica do ministro Palocci (Fazenda) e pelo caso do hoje ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, que recolhia propina.
"Nós não vamos atacar, mas também não vamos dar a outra face", diz o presidente do PT, José Genoino (SP). "Já estamos mudando o Brasil e mudamos onde estamos governando", é a resposta seja às críticas de que o PT gerencia mal o governo, seja ao continuísmo na economia.


Colaborou a Agência Folha

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Petistas não repetem aliados de Lula em cidades importantes de São Paulo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.