São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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TODA MÍDIA

Várias frentes

NELSON DE SÁ

O "New York Times" publicou ontem e o UOL traduziu e destacou, em sua home, reportagem sobre o acordo entre Brasil e Estados Unidos, num conflito comercial de anos em torno da exportação de laranja.
Do destaque do UOL:
- Brasil favorece os EUA e impulsiona a Alca.
Do texto do "NYT":
- O acordo remove um obstáculo importante para os esforços de criação da Área de Livre Comércio das Américas, na data almejada de janeiro próximo.
Em carta conjunta enviada à Organização Mundial do Comércio, os dois países dizem ter chegado a "solução mutuamente satisfatória" no caso, com uma emenda à lei estadual da Flórida que vinha sendo questionada na OMC pelo Brasil.
A notícia estava ontem também no "Miami Herald", da Flórida, e em agências econômicas como Dow Jones. Do porta-voz do representante comercial dos EUA, para a Bloomberg:
- Nós conseguimos um bom resultado.
 
Na frente comercial que não dá trégua, "Financial Times" e "El País" noticiaram que representantes do Mercosul e União Européia concordaram em fazer novas concessões -e que a previsão é um acordo para "logo".
Entrevistado longamente pelo "El País", o diretor-geral de Agricultura da Comissão Européia afirmou que a Europa vem fazendo concessões "como nunca porque tem a ambição de criar a maior zona de livre comércio jamais feita -e a agricultura não vai ser obstáculo".
 
Mas as coisas não estão tão róseas, de acordo com o indiano "The Economic Times", também na edição de ontem.
Segundo o jornal, o G20, "grupo de países em desenvolvimento que surgiu com força em setembro, nas negociações da Organização Mundial do Comércio, e é liderado por Brasil, Índia e África do Sul", rejeitou anteontem a proposta dos EUA e União Européia para as barreiras tarifárias no âmbito da OMC.
A proposta teria sido descrita como "muito leve para para os países ricos e muito pesada para os países pobres".
 
Duas análises sobre o G20.
O "India Express" escreveu ontem sobre os desafios do novo chanceler indiano, colocando entre suas prioridades:
- (Ampliar) os poderes de negociação na OMC, o que ele terá que fazer em cooperação com países como China, África do Sul e Brasil. Ele terá que fortalecer a posição da Índia no G20.
E o sul-africano "Business Day", anteontem, lamentou que as relações Brasil/África do Sul se tornaram mais fortes politicamente, mas não comercialmente, por enquanto.

CONSPIRAÇÃO

O site da CNN e outros destacaram durante a semana despachos das agências AP, Reuters e EFE, com as críticas feitas pelo Ministério da Agricultura, em nota, a reportagens publicadas no "New York Times", "Guardian" e "The Economist". O ministério questionou os dados de que o desenvolvimento agrícola na Amazônia estaria destruindo a floresta. Da nota:
- É inevitável suspeitar que as reportagens refletem o desconforto que o crescimento do agronegócio brasileiro causa em seus concorrentes internacionais.
Se é para ver conspiração por toda parte, vale registrar que vários jornais, como "Financial Times", noticiaram na semana que chegou a 22 o número de mortos por "morcegos vampiros" em Belém. Na Amazônia.

MORTE, SEXO E COMIDA

Reprodução
Capa do livro


Para quem busca conspiração, também corre o mundo um pequeno fenômeno chamado "A Death in Brazil", uma morte no Brasil, de Peter Robb. Depois de uma resenha de elogios no "New York Times", ontem foi o londrino "Guardian" que incensou o livro, que não traz apenas uma morte (o título fala do assassinato de PC Farias), mas dezenas, em "massacres, genocídios, canibalismo" etc.
De todo modo, não se trata só de morte, diz o "Guardian", que descreve o livro como um dos melhores retratos do Brasil já escritos. "Ele capta o espírito e os paradoxos do país de um modo como poucos escritores conseguiram", cobrindo da guerra de Canudos à "república de Zumbi", sublinhando também sexo e comida -estes últimos, por sinal, descritos com "fantástica erudição" e citações de Gilberto Freyre.

"Infantilidade"
Do Jornal Nacional, inclusive com manchete, à CBN, ao jornal "O Globo" e à revista "Época": as Globos todas destacaram que um "ex-diretor de Programas Estratégicos do Ministério da Saúde na gestão do ex-ministro José Serra" é agora o mais novo "suspeito de envolvimento com a máfia do sangue".
A "Época" traz frases dele, de telefonema gravado:
- Hoje tá tendo licitação, simplesmente eles montaram a licitação de insulina no Brasil... Que infantilidade um troço desses. Vai dar m...

Liberdade
Mas notícia mesmo, destaque desde anteontem nas Globos, é que um juiz de Brasília libertou 11 dos "suspeitos" do caso.

Jobim
Nelson Jobim, presidente do Supremo, falou a Alexandre Garcia na Globo News. Pediu "uma grande discussão sobre a Justiça" e defendeu o conselho do Judiciário, negando a expressão "controle externo".
Falou de política. Sobre as pressões contra a carga tributária das empresas, por exemplo, disse com ironia que "querem reduzir a receita (da União), mas não a despesa". E emendou:
- Uma curiosidade: quando se discute carga tributária nunca se discute o sistema S.

Ceticismo
O aviso de um possível ataque terrorista, feito espalhafatosamente pelo governo de George W. Bush, chegou perto de ser ridicularizado pela mídia americana.
Levantamento do "Washington Post" mostrou que, da CNN à CBS, do "New York Times" ao "Los Angeles Times", foi geral o "ceticismo" e a desconfiança de que era só para mudar de assunto.

BC dependente
O site "American Banker" fez longa reportagem e o "Washington Post" repercutiu, durante a semana, a informação de que o presidente do banco central americano, Alan Greenspan, "visita a Casa Branca e altos funcionários" do governo Bush bem mais do que fazia no governo anterior.
Kenneth Thomas, da Universidade da Pensilvânia, que conseguiu os dados recorrendo à Lei de Liberdade de Informação, comentou em sua análise:
- Parece que Greenspan pode ser afetado não apenas pelos ventos econômicos, mas também pelos ventos políticos.

Espanha e a fome
No jornal "El País", a submanchete dizia ontem que o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, no encontro no México, expressou a Lula sua "disposição de enviar tropas ao Haiti".
E aceitou o convite para tomar parte de um "encontro da fome" a ser realizado no Brasil.


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