São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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ENCONTRO DE GUADALAJARA

Seis bancos e 25 lojas são depredados; cerca de 90 pessoas foram presas, e outras 50, feridas

Protesto antiglobalização deixa 50 feridos no México

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA

Ao menos 90 pessoas foram presas e 50 ficaram feridas em conflitos entre a polícia e manifestantes antiglobalização no encerramento da 3ª Cúpula América Latina e Caribe-União Européia.
Cerca de mil pessoas ocuparam ruas próximas ao Instituto Cultural Cabañas, onde se realizava, na noite de anteontem, o jantar de gala oferecido pelo presidente mexicano, Vicente Fox, a representantes de 58 países.
Menos do que a quantidade de manifestantes, o que mais impressionou foi a violência dos grupos que se chamavam de anarquistas. Na contabilidade oficial, dos 50 feridos, 30 eram policiais e 20 eram manifestantes.
A polícia mexicana colocou batalhões de choque, com escudos, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo nas ruas próximas à avenida Juarez -rua importante do centro de Guadalajara.
Manifestantes partiram em direção ao bloqueio policial atirando grades de ferro, telefones públicos, tijolos e rebocos de obras.
Em diversos pontos de bloqueio, os policiais apenas se protegiam com seus escudos.
Seis bancos foram depredados, o que provocava o disparo do sinal de alerta das agências, aumentando o clima de caos nas ruas de Guadalajara.
Vinte e cinco lojas tiveram portas arrombadas, mas não se registrou nenhum tipo de saque. Os confrontos começaram no fim da tarde e se estenderam repetidas vezes por toda a noite.
Os participantes, na maioria jovens, gritavam slogans anarquistas. Alguns usavam boinas e camisetas com a imagem do líder revolucionário Che Guevara. Outros portavam bandeiras cubanas. Muitos protestavam contra os Estados Unidos, país que não participa da cúpula América Latina-União Européia.
Poucos chefes de governo e de Estado presentes passaram em áreas próximas aos protestos. Como eram em número reduzido, os manifestantes caminhavam pelas cercanias do Instituto Cultural Cabañas, forçando a entrada, sem sucesso, na tentativa de invadir a área do jantar das autoridades.
A comissão de direitos humanos do México abriu procedimento para investigar abusos da polícia e identificar incitadores da violência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia deixado a área da cúpula no final da tarde, momentos antes do início do conflito nas ruas de Guadalajara. A única autoridade brasileira presente no encerramento da cúpula era o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Mercosul
Como resultado de reuniões com os países do Mercosul, o México acertou sua entrada no bloco a partir do próximo dia 8 de julho, como "membro associado".
O presidente do México, Vicente Fox, informou o presidente Lula da decisão anteontem. Segundo Fox, a adesão do México "trará benefícios políticos e econômicos para a América Latina".
O presidente do Chile, Ricardo Lagos, disse esperar que a incorporação do México "permita ter uma melhor coordenação nos fóruns internacionais".
O pedido de adesão do México será formalizado em Buenos Aires. Anteontem, Lula convidou Fox para visitar o Brasil dias antes do encontro para que cheguem em um mesmo vôo à Argentina.
Fox então perguntou ao brasileiro se usariam um avião da Embraer, empresa que tem um contencioso com o Canadá, parceiro do México no Nafta (o acordo de livre comércio da América do Norte). "Vamos de "sucatão" mesmo", escapou Lula.


Colaborou FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a Guadalajara


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