São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2008

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Sertanista diz que órgão sabe de outras tribos não contatadas

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fundador do Departamento de Índios Isolados da Funai, o sertanista Sydney Possuelo, 67, disse à Folha que a região da divisa do Acre com o Peru é conhecida por concentrar várias tribos isoladas.
"Essas fotos vêm demonstrar o que falamos há muito tempo. Há mais de 22 pontos com índios isolados na área de fronteira. Mas todos os órgãos, políticos, fazendeiros e até antropólogos dizem que é fantasia", afirmou.
Possuelo explicou que a Funai faz sobrevôos na região há duas décadas e vem descobrindo vários grupos. "Por isso essas terras são demarcadas", comentou o sertanista, defensor da idéia de se evitar ao máximo o contato com os índios.
"Durante os anos 70 e 80, fiz contato com uns sete grupos. Durante esse trabalho, percebi que não deveríamos tentar contato, mas apenas protegê-los do assédio externo", lembrou o sertanista.
A Funai hoje atua apenas na identificação das tribos isoladas, dimensiona seus territórios e os monitora com equipes de proteção etnoambiental. Possuelo capitaneou a expedição que fez contato com os korubo, no Vale do Javari (AM), em 1996 -o último contato oficial com uma tribo isolada.
O antropólogo Gersem Luciano Baniwa, índio da etnia baniwa, disse que a divulgação das fotos dos índios isolados serve à reflexão sobre a atual política indigenista. "É preciso que a sociedade discuta se adotará uma política de preservação desses grupos ou de seu extermínio. É uma responsabilidade moral e política", avaliou.
O especialista duvida, no entanto, que ainda existam índios isolados de qualquer contato com a civilização. "É uma possibilidade reduzida em termos de outras línguas e outros povos. Podem ser pequenos grupos desgarrados, que fugiram por causa de perseguição ou violência", disse.
Segundo Gersem Baniwa, há muitas vezes contatos indiretos, através de outras tribos, com as quais eles obtêm alguns suprimentos, como fósforos. Geralmente são nômades. "Em São Gabriel [AM], os índios nos contam que já viram outros grupos e famílias pequenas que fugiram", afirmou.


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