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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DEPOIMENTOS
Publicitário diz que dinheiro em espécie era usado para pagar fornecedores, comprar ativos e distribuir lucros entre os sócios
Valério agora nega ter comprado gado
GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Cercado por três advogados de
defesa, o publicitário mineiro
Marcos Valério Fernandes de
Souza negou ontem à Polícia Federal em Brasília que tenha usado
o dinheiro de saques em espécie
feitos diretamente no caixa do
Banco Rural para comprar gado e
apresentou três novos supostos
destinos para esses valores.
Apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como
um dos operadores do "mensalão" -suposto pagamento mensal de propina a parlamentares da
base aliada- Marcos Valério disse no depoimento de ontem que o
dinheiro era usado para pagar
fornecedores de suas empresas,
comprar ativos e distribuir lucros
entre os sócios. Mas ele não deu
detalhes dessas três operações, segundo a Polícia Federal.
Relatório do Coaf (Conselho de
Controle de Atividades Financeiras), órgão de inteligência do governo federal, apontou saques em
espécie de R$ 20,9 milhões feitos
pelas empresas de Marcos Valério
no Banco Rural entre julho de
2003 e maio de 2005.
A revista "Veja" publicou no
fim de semana entrevista na qual
o publicitário afirma que os saques de altos valores eram usados
para a compra de cabeças de gado: "Reconheço que fiz vultosas
movimentações financeiras no
Banco Rural. Tenho fazendas,
compro animais. Lido com gado.
Há fazendeiros que simplesmente
não aceitam cheque". Essa explicação foi ironizada por associações de criadores, que afirmaram
que essa forma de negociação
-pagamento com dinheiro em
espécie- não é usada pelo setor.
A ex-secretária do publicitário
Fernanda Karina Somaggio, em
depoimento ao Conselho de Ética
da Câmara anteontem, também
afirmou desconhecer tais negociações. Karina está sendo processada pelo ex-patrão por tentativa
de extorsão -processo aberto
antes das acusações de Roberto
Jefferson contra o publicitário.
Oito horas
Em um depoimento de oito horas à Polícia Federal, Marcos Valério, no entanto, negou que tivesse dito que usou o dinheiro para
comprar gado. Mas o publicitário
também não forneceu detalhes de
como esses valores eram usados
nem confirmou as cifras levantadas pelo Coaf.
De acordo com a PF, o publicitário disse apenas que iria apresentar em outra oportunidade os
documentos sobre o destino dos
valores sacados diretamente no
caixa do Banco Rural.
Quando foi questionado sobre
os dados da agenda de sua ex-secretária, Marcos Valério admitiu
que as datas de saques e de viagens dele a Brasília podem coincidir. Segundo a PF, o publicitário
justificou essas supostas coincidências porque viaja muito.
O delegado da PF Luiz Flávio
Zampronha, responsável pela investigação, classificou o depoimento de Marcos Valério de confuso. Apesar de não tê-lo indiciado (acusação formal de um crime) ontem, a polícia vai fazer agora uma perícia contábil para verificar a evolução patrimonial do
publicitário nos últimos anos.
A Polícia Federal, porém, não
informou qual período será analisado pelo INC (Instituto Nacional
de Criminalística). Também não
foi informado quando Marcos
Valério apresentará os documentos que justificariam o uso do dinheiro nem quando ele será ouvido novamente.
O publicitário não quis falar
com os repórteres. Na saída, questionado se era inocente, ele apenas afirmou: "Gente, eu não quero ser grosso".
Depois de ser ouvido pela PF,
Marcos Valério prestou depoimento na Corregedoria da Câmara. Ele saiu às 22h55 também sem
falar com a imprensa.
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