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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA DE CAMPANHA
Líder petebista e José Genoino prestaram depoimentos divergentes sobre suposto auxílio financeiro ao PTB nas eleições de 2004
Jefferson pediu R$ 4 mi ao PT, diz Múcio
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do PT, José Genoino, e o líder do PTB, deputado José Múcio (PE), prestaram depoimentos divergentes ontem, na
Câmara, sobre o suposto auxílio
financeiro do PT ao PTB nas eleições do ano passado.
Múcio confirmou a existência
de um acordo, citado pelo presidente do PTB, deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ), para o repasse
de R$ 20 milhões a candidatos petebistas nas eleições municipais.
O acerto, segundo Múcio, foi feito
entre Jefferson, Genoino e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares,
mas apenas parte do dinheiro foi
entregue pelos petistas.
Ainda de acordo com o líder petebista, que prestou depoimento
no Conselho de Ética da Câmara,
Jefferson pediu à cúpula do PT o
pagamento de mais R$ 4 milhões,
além dos R$ 4 milhões que diz ter
recebido, em reunião em seu
apartamento em março desse
ano. O pedido teria sido negado.
Genoino, que foi ouvido na comissão de sindicância na Corregedoria da Câmara, refutou a versão de acordo entre PT e PTB e
negou a existência do "mensalão"
-suposto pagamento de mesadas a parlamentares aliados do
governo. "O PT não sabia, não
conversou e nunca discutiu esta
história de mensalão", disse ele,
após depor a portas fechadas na
comissão.
"O PT fez um acordo político-eleitoral nas cidades onde tínhamos aliança com o PTB. [Sobre]
As despesas de show, televisão,
material de campanha, adesivos,
camisetas, tivemos responsabilidade. Mas jamais apoio de R$ 20
milhões, nem passar R$ 4 milhões
para o PTB", afirmou Genoino.
Contradições
Múcio, correligionário de Jefferson, o contradisse várias vezes durante o depoimento e levantou
dúvidas sobre a destinação dos R$
4 milhões que o presidente do
PTB disse ter recebido. "Tenho
quase certeza de que esse dinheiro
não chegou aos candidatos a prefeito", afirmou.
Múcio disse ainda que a reunião
de março, da qual participou, teve
a presença de Jefferson, Genoino,
Delúbio e Emerson Palmieri, "tesoureiro informal" do PTB.
"O Roberto [Jefferson] afirmou
que tinha ficado em uma situação
extremamente desconfortável no
partido por causa do acordo não
cumprido de R$ 20 milhões. Disse
que, com mais R$ 4 milhões, resolveria os problemas", declarou
Múcio.
Foi nessa ocasião, afirmou o petebista, que ele teve pela primeira
vez a notícia de que uma primeira
parcela do suposto acerto teria sido repassada pelo PT. "O Roberto
afirmou que queria, inclusive, que
a nova parcela fosse registrada de
forma legal. Intuo que ele não
usou a primeira parcela por falta
disso."
Múcio afirmou que nunca a
bancada federal foi informada do
suposto repasse de R$ 4 milhões.
Disse ainda que ouviu falar em
"mensalão" apenas quando Jefferson citou a ele rumores, no final de 2003, e que não discutiu o
assunto com Delúbio, diferentemente da versão apresentada pelo
presidente petebista.
O líder do PTB confirmou ter sido procurado por Delúbio, que
queria marcar uma reunião com
Jefferson. O encontro ocorreu no
apartamento de Jefferson uma semana depois, e o líder disse ter ficado apenas por alguns minutos,
o suficiente para ouvir o tesoureiro petista dizer que queria que o
petebista ajudasse a "desencravar
umas unhas".
Múcio negou que tenha sido
pressionado pelos deputados Pedro Henry (PP-MT), Valdemar
da Costa Neto (PL-SP) e Carlos
Rodrigues (PL-RJ) para aceitar o
"mensalão", novamente contradizendo Jefferson.
Em uma terceira contradição,
Múcio disse que nunca ocorreu
uma reunião da bancada do partido para decidir pela aceitação ou
não do "mensalão". Houve apenas uma conversa informal com
deputados, em que o presidente
do PTB teria citado a mesada, mas
sem levar o tema a voto.
Itapuã Messias, advogado do
petebista, negou que haja contradições. "O que há são estilos diferentes de dizer a mesma coisa".
Ausências
Dos quatros dirigentes petistas
convidados a depor ontem na
Corregedoria, Genoino foi o único que compareceu. Delúbio Soares, Silvio Pereira (secretário-geral) e Marcelo Sereno (secretário
de Comunicação) não justificaram as ausências e não marcaram
novas datas para depor.
Após o depoimento, Genoino
confirmou que se encontrou com
o publicitário Marcos Valério na
sede do PT, mas negou que tenham conversado sobre o "mensalão". "Eu estive apenas algumas
vezes com ele, na sede do PT, para
cumprimentar, numa relação social, na medida em que ele tinha
relação mais próxima com o companheiro Delúbio Soares."
Outros depoimentos
No total, nove pessoas prestaram depoimento à Corregedoria
ontem, entre elas o genro do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Marcus Vinícius Vasconcelos, que negou atuar irregularmente nas estatais em favor do
PTB. Ele confirmou, porém, que
era o "ouvido" de Jefferson nas estatais nas ocasiões em que o sogro
lhe pedia.
A deputada Raquel Teixeira
(PSDB-GO), que afirma ter recebido proposta de vantagens financeiras para trocar de partido e
apoiar o governo, disse, em depoimento, ter recebido telefonemas de um assessor do ministro
da Articulação Política, Aldo Rebelo, nos dias seguintes à primeira
entrevista de Jefferson à Folha,
em 6 de junho. Na entrevista, Jefferson citou pelo primeira vez o
suposto "mensalão".
Um telefonema partiu de Alon
Feuerwerker, assessor de Aldo,
que disse que o objetivo era tratar
da liberação de uma emenda de
R$ 1 milhão dela.
Também foi ouvido o deputado
Carlos Rodrigues (PL-RJ), acusado por Jefferson de "ensinar" ao
PT a prática do "mensalão". Ele
chorou em seu depoimento e disse que nunca recebeu "dinheiro
ilícito".
(CHICO DE GOIS, SILVIO NAVARRO E RANIER BRAGON)
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