São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Comissão é instalada com número mínimo de votos graças a um senador da base aliada

Oposição instala CPI dos Bingos no Senado

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da tentativa de boicote dos governistas, a oposição conseguiu instalar ontem a CPI dos Bingos no Senado para investigar o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagrado em vídeo negociando propina com um empresário do ramo de jogos.
O senador Efraim Morais (PFL-PB) foi eleito presidente por unanimidade e disse que o relator deverá ser indicado pelos governistas. O vice-presidente é o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), cujo partido é aliado ao governo, mas deixou o bloco na Casa.
O número mínimo de votos para instalar a CPI -8 de 15 titulares- foi garantido com uma "traição" do bloco aliado ao governo: o senador Magno Malta (PL-ES), autor do requerimento de criação da CPI. O petista Paulo Paim (RS) apareceu depois.
"Se eu não viesse, estaria pagando um mico. Como poderia me explicar depois?", disse Malta, acompanhado pelo boxeador Acelino Popó Freitas. "Trouxe o Popó para me dar segurança, estava com medo", brincou.
Em reunião de líderes pela manhã, a oposição avisou que realizaria a sessão mesmo com a ausência do governo. Quando soube que a CPI foi instalada, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), telefonou para os líderes Arthur Virgílio (PDSB-AM) e José Agripino (PFL-RN) para se queixar.
Mais tarde, Mercadante tentou minimizar a questão e provocou o PFL, que só quer começar os trabalhos efetivamente após o recesso, em agosto. "Está instalada, então é para investigar agora. Vamos cobrar da oposição que trabalhe no recesso", disse o líder.

Tentativas anteriores
A CPI quase foi instalada em duas vezes anteriores. Quando foi criada, no ano passado, os líderes da base e o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não indicaram os integrantes. A oposição recorreu ao Supremo Tribunal Federal e ganhou.
Na semana passada, governo e oposição chegaram a negociar o não-funcionamento da CPI, devido ao foco na CPI dos Correios. Porém, o PFL recuou e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desautorizou o acordo. Depois disso, o PFL pressionou pela instalação imediata, apesar da resistência inicial do PSDB. "O direito das minorias está assegurado", disse Agripino.
Na avaliação do líder tucano no Senado, Arthur Virgílio, o governo está desarticulado e não conseguirá evitar também a instalação da CPI mista do "mensalão". "As estratégias do governo estão fazendo água", disse Virgílio.
O governo quer manter a investigação da suposta compra de votos restrita à Câmara e incluindo a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo governo foi acusado de comprar votos para aprovar a emenda que permitiu sua reeleição, em 1997.
Com a CPI dos Bingos, o governo entra em mais uma batalha. Em tese, a investigação diz respeito ao uso de casas de bingo pelo crime organizado. Porém, a oposição quer investigar a atuação de Waldomiro Diniz, que era homem de confiança do ex-ministro José Dirceu na Casa Civil.
Waldomiro foi gravado em 2002 cobrando propina do empresário Carlos Augusto Ramos. O dinheiro supostamente financiaria campanhas eleitorais.


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