São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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PF vai checar obras suspeitas da Operação João de Barro

Objetivo é ver se projetos são fictícios ou apresentam indícios de superfaturamento

Quadrilha que teve diálogos e encontros monitorados pela polícia é suspeita de desvios de dinheiro e fraude em licitações federais

FERNANDA ODILLA
ANDRÉA MICHAEL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de monitorar diálogos e encontros entre lobistas, empresários e funcionários do Ministério das Cidades e da STN (Secretaria do Tesouro Nacional), a Polícia Federal começa a mapear e checar as obras que foram alvo das negociatas da quadrilha investigada pela Operação João de Barro.
Os pedidos de prisão e busca e apreensão em sete Estados se basearam até aqui no conteúdo das conversas por telefone dos principais acusados de participar do esquema de desvio de dinheiro e fraude em licitações.
Nessa nova etapa, a PF vai apurar se as obras são fictícias ou se possuem má qualidade e outras características que indiquem superfaturamento ou emprego de materiais diferentes daqueles especificados no edital, afirmou à Folha o delegado Nelson Cerqueira, responsável pelas investigações.
A PF calcula que os projetos de saneamento e habitação na mira dos criminosos já receberam o repasse de R$ 700 milhões. Não fosse a operação, teriam o mesmo destino mais de R$ 2 bilhões, reservados para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), de repasses voluntários de ministérios para prefeituras e de emendas parlamentares.
O delegado Cerqueira disse que a polícia enfrenta dificuldade para identificar que fatia do programa, carro-chefe do segundo mandato do presidente Lula, foi ou seria alvo da quadrilha nas 119 prefeituras investigadas. "De qualquer modo, a preocupação das investigações não é a definição de pertencer ou não ao PAC. Mas se se trata de recurso federal sendo desviado", afirmou.
Segundo ele, as apreensões nas sedes de prefeituras foram feitas para ajudar a identificar o tamanho e a força do esquema. Os grampos indicam que lobistas e servidores federais negociaram a liberação de projetos e de recursos para obras em diferentes municípios, principalmente do interior de Minas Gerais, mesmo com documentação incompleta.
A forma de operar e o papel desempenhado pelos suspeitos já foram detalhados pela PF. "Resta definir as ações concretas", afirmou o delegado.
A Folha apurou que a PF põe representantes de grandes construtoras no centro da organização criminosa. Além de oferecer pacotes completos às prefeituras (projeto básico, captação de recursos e obra), esses lobistas atuaram também junto a parlamentares, prometendo ampliação da base eleitoral em troca de emendas que garantiriam recursos para as ações nos municípios.
Para assegurar a liberação de verbas, o contato com servidores da Esplanada dos Ministérios lotados em cargos estratégicos foi pré-requisito para que o esquema funcionasse. O pagamento de propina também foi identificado em ministérios, nas prefeituras e no Congresso.
Entre os mimos bancados pelos lobistas do esquema estão viagens a Belo Horizonte, festas e até garotas de programa. Durante os interrogatórios, que estão sendo feitos na sede da Superintendência da PF em BH, os principais investigados têm confirmado encontros e conversas.


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