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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Em discurso a representantes do Judiciário, presidente diz que opositores querem deixar tudo como está

Lula critica "comodismo" dos anti-reforma

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula discursa durante lançamento do Fórum Nacional do Trabalho, no Palácio do Planalto


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao discursar diante de alguns dos principais opositores da reforma da Previdência, entre eles o presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o comodismo dos que não querem as reformas.
Falando de improviso no lançamento do Fórum Nacional do Trabalho, o presidente disse que todos sabem, "mesmo os que preferem a comodidade de não fazer nada", que é preciso mudar.
Em tom irônico, o presidente disse que as reformas "mexem muito com a nossa comodidade" e concluiu: "É melhor ficar tudo como está. Para que mudar?".
Segundo Lula, "isso não vale apenas para a questão sindical, vale para a questão da Previdência. Vale até para uma casa que a gente vai reformar. Não é todo mundo que tem coragem no final do ano de comprar uma lata de tinta e pintar sua casa. Fica como está, para que trabalho? Mas todos nós sabemos que nós temos de mudar".
Na platéia, além de Maurício Corrêa, estavam outros representantes do Judiciário, como o presidente interino do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Vantuil Abdala, e o presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Grijalbo Coutinho. Os três se opõem à redução de vencimentos de juízes (ativos e inativos) por meio do subteto contida na reforma da Previdência.

Justiça trabalhista
O presidente Lula também criticou a Justiça do Trabalho -que marcou uma greve para o dia 5 de agosto-, afirmando que ela se opunha à implantação do contrato coletivo de trabalho no Brasil, assim como muitos empresários, advogados trabalhistas e mesmo trabalhadores.
"A Justiça do Trabalho, com seu aparato, talvez não queira ser incomodada com a facilidade da implantação do contrato coletivo de trabalho. Eu acho que pode ter sido verdade em algum momento da nossa história, mas hoje não é mais", disse.
A afirmação de Lula provocou imediata reação. "Eu fiquei surpreso com as referências feitas pelo presidente da República em relação a essa questão, quando ele disse que havia segmentos sociais que seriam contrários à adoção do contrato coletivo de trabalho e talvez a própria Justiça do Trabalho. Se ele disse a palavra "talvez", é porque não tinha certeza", afirmou o ministro Vantuil Abdala.
"E não poderia mesmo ter certeza, uma vez que a Justiça do Trabalho nunca se manifestou contrariamente ao contrato coletivo de trabalho. Muito pelo contrário, todas as declarações da Justiça do Trabalho sempre foram favoráveis a essa modalidade de contrato, como hoje ainda são", acrescentou. Ele disse que não sabe de onde Lula "tirou essa idéia".

Frases de efeito
Grijalbo Coutinho afirmou que Lula, ao falar de improviso, tenta produzir frases de efeito que não necessariamente correspondem à verdade. "Ele está mal informado. A Justiça do Trabalho nunca teve posição fechada contra o contrato coletivo", disse.
Sobre a crítica que Lula fez aos "comodistas", Coutinho afirmou que o fato de os magistrados se oporem a alguns itens da reforma não quer dizer que sejam contra a reforma como um todo ou que não queiram melhorar o país.
"Foi mais uma infelicidade dele. O que nós não queremos é privatizar a Previdência. Nós queremos pintar a casa para o povo brasileiro. Mas parece que o presidente quer, além de pintar a casa, deixá-la arrumada para o grande capital usá-la como quiser", afirmou Grijalbo Coutinho.


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