UOL

São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes cristãos do continente dão apoio ao MST

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Líderes religiosos e teólogos do Brasil e do exterior reunidos na conferência "Cristianismo na América Latina e no Caribe", em São Paulo, divulgaram ontem dois comunicados de apoio ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O primeiro afirma que a imprensa, nas últimas semanas, tem sido "bombardeada por uma campanha sistemática de ataques alarmistas contra o MST".
A consequência dessa "campanha", segundo a nota, é "a criminalização contra os movimentos sociais que lutam pacificamente contra a exclusão social".
Os líderes religiosos classificam o latifúndio como o "crime fundamental contra a fraternidade humana" e o "responsável pela fome e pela morte de tantos seres humanos".
"Nós, bispos, pastores, teólogos e teólogas de várias igrejas cristãs, [...], denunciamos essa tentativa de atribuir às vítimas o crime contra elas cometido. [...] Fica parecendo que a violência [...] é feita pelos sem-terra e pelos sem-teto ao exigir da sociedade aquilo para a qual ela foi organizada: garantir o mínimo dos direitos humanos a todo cidadão", diz o documento, assinado por bispos brasileiros, argentinos e mexicanos, além de outros líderes cristãos e teólogos do Brasil, do Peru e da Guatemala.
Entre os que assinaram a nota, está dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), o braço agrário da Igreja Católica no Brasil.
Para o bispo brasileiro, sempre houve uma campanha de difamação contra o MST:
"Pessoas ligadas ao latifúndio e à manutenção do modelo econômico atual querem encobrir a violência verdadeira, que são o latifúndio e a repressão às organizações que querem mudar essa situação."
Sobre a infiltração de agentes da PF (Polícia Federal) e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em movimentos sociais, dom Tomás Balduíno disse acreditar que, "da parte do governo federal, a postura é muito clara: não reprimir". "Mas muitos governos estaduais estão ligados aos latifúndios e acionam a polícia", completou o bispo.

Estados Unidos
O segundo manifesto foi uma carta aberta do Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos ao MST. Nela, destaca a "admirável atuação" dos sem-terra "em prol da justiça no campo e da educação dos mais pobres no Brasil".
"No mundo inteiro, a caminhada do MST é sinal profético de um mundo mais justo e fraterno, parábola e esboço do reino de Deus que Jesus Cristo veio nos trazer", diz a carta.
A conferência "Cristianismo na América Latina e no Caribe" reúne cerca de 750 representantes de diversas igrejas de 31 países até amanhã. Estão programadas mesas-redondas e palestras em duas faculdades de São Paulo.


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


Texto Anterior: Tensão social: Questão social não é de polícia, diz Bastos
Próximo Texto: MST é acusado de furto em fazenda
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.