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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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TENSÃO SOCIAL

Ministro afirma que governo tem "tolerância tática" e que não é fraco nem repressor com ações dos movimentos sociais

Questão social não é de polícia, diz Bastos

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na tentativa de demonstrar que o governo está tranquilo sobre a "tensão social" dos últimos dias, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse ontem que não há "leniência" (fraqueza) ou excesso de repressão contra os movimentos sociais.
"O governo não está sendo leniente. A questão social não é uma questão de polícia. Essa é uma idéia dos anos 30. Não vamos agir assim, por mais que se tente tirar proveito da situação, como se tenta tirar politicamente", disse o ministro minutos antes da cerimônia de lançamento do Fórum Nacional do Trabalho ontem, no Palácio do Planalto.
Ainda assim, a questão agrária já estaria aborrecendo Bastos. Ele citou o caso para criticar a greve de juízes estaduais prevista para a próxima semana. "Não posso fazer greve como ministro da Justiça porque tenho estado aborrecido pelo aumento de problemas no campo. O presidente não pode fazer greve descontente com uma decisão do Congresso."
Questionado sobre um diagnóstico sobre o campo, o ministro disse que os dados da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Informação) "não apontam para uma tensão excessiva".
A Folha revelou ontem que agentes da PF e da Abin estão infiltrados no MST e em milícias de ruralistas. "Se aparecer alguma circunstância que indique isso [a necessidade da força], a PF pode entrar a qualquer momento."
Mas, segundo Bastos, adotar medidas mais duras contra sem-terra ou sem-teto não fazem parte do "horizonte". "Não dá para dizer [que vamos começar a prender lideranças]. Não está no nosso horizonte. Nosso horizonte é que as coisas vão se solucionando judicialmente e pacificamente." A ordem para a PF seria intensificar os trabalhos de inteligência. "Não vamos fazer repressão."
A PF informou que tem competência legal para investigar conflito no campo quando há terra devoluta ou pertencente à União -caso do Pontal do Paranapanema (SP). Já em invasões urbanas, a competência é estadual.
Bastos disse que a herança de governos anteriores é fundamental para o quadro de tensão. "Temos até uma certa tolerância tática. O Brasil não cresce há 20 anos e não distribui renda há 30." Em resposta à crítica do ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Raul Jungmann, que anteontem disse que o governo deveria "democraticamente baixar o pau" no MST, Bastos disse que a frase "é um delírio retórico".


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