São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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GIRO PELA ÁFRICA

Em Cabo Verde, presidente afirma que barreiras comerciais mantêm multidões na pobreza extrema

Lula acusa países ricos de "práticas hipócritas"

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A CABO VERDE

No último dia de viagem pela África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso criticando a postura dos países desenvolvidos nas negociações comerciais. Disse que "práticas hipócritas" prejudicam as nações mais pobres e defendeu a união dos países do eixo Sul-Sul para "que os benefícios do livre comércio cheguem a todos".
"Não queremos depender de arranjos privilegiados com países desenvolvidos que distorcem o sistema internacional e nos condenam à eterna dependência de concessões desiguais e incertas", disse ontem, em discurso na Assembléia Nacional, o Congresso Nacional de Cabo Verde.
Segundo Lula, é "inadmissível que multidões permaneçam em extrema pobreza devido a barreiras comerciais impostas pelos países desenvolvidos".
E completou: "Os pequenos produtores agrícolas competitivos dos países pobres são prejudicados por práticas comerciais injustas e muitas vezes hipócritas".
O chamado eixo Sul-Sul é uma das prioridades da política externa do presidente Lula, e compreende os países fora da trinca EUA-União Européia-Japão, como China e África do Sul.
A cerca de 70 deputados cabo-verdianos, Lula disse que não se pode "relegar a segundo plano o flagelo da escassez e da pobreza que aflige mais de um bilhão de pessoas no mundo".
Defendeu a reforma no Conselho de Segurança da ONU, uma das principais bandeiras da viagem pela África, e conseguiu uma declaração de apoio de Cabo Verde à intenção brasileira.
Disse querer que o Mercosul seja o "pilar" da nova geografia econômica. Ao citar a vitória do Brasil na OMC contra os subsídios do algodão, afirmou que não quer "esperar décadas para ter outra chance de liberalizar o comércio mundial naqueles bens e serviços onde somos competitivos".
O discurso de Lula incluiu a questão da segurança, tema caro a países europeus e aos Estados Unidos. Para Lula, não haverá estabilidade econômica internacional nem proteção contra o terrorismo enquanto não houver prioridade na construção de uma ordem econômica mais justa. "A fome hoje é a principal arma de destruição em massa que ameaça a humanidade."

"Mão de duas vias"
O discurso de cooperação entre os países em desenvolvimento já havia sido feito durante o Seminário Empresarial Brasil-Cabo Verde, pela manhã.
No encontro, Lula cometeu um equívoco. Ao defender que o comércio seja igual para todos as nações, disse: "O comércio exterior é uma mão de duas vias". Queria dizer "uma via de duas mãos".
Dois empresários de Fortaleza que estavam no local reivindicaram melhores condições de transporte marítimo para exportar as mercadorias da cidade para Cabo Verde, percurso feito semanalmente pelas sacoleiras do país.
O presidente Lula assinou um acordo com Cabo Verde para aprimorar as condições de vôo nesse trecho, realizado atualmente apenas uma vez por semana.
O Brasil ajudará Cabo Verde a instalar a primeira universidade pública daquele país. Acordo firmado ontem entre os ministros da Educação dos dois países prevê que a UnB (Universidade de Brasília) e a Federal do Ceará participarão do processo.


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