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GIRO PELA ÁFRICA
Em Cabo Verde, presidente afirma que barreiras comerciais mantêm multidões na pobreza extrema
Lula acusa países ricos de "práticas hipócritas"
JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A CABO VERDE
No último dia de viagem pela
África, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva fez um discurso criticando a postura dos países desenvolvidos nas negociações comerciais. Disse que "práticas hipócritas" prejudicam as nações mais
pobres e defendeu a união dos
países do eixo Sul-Sul para "que
os benefícios do livre comércio
cheguem a todos".
"Não queremos depender de arranjos privilegiados com países
desenvolvidos que distorcem o
sistema internacional e nos condenam à eterna dependência de
concessões desiguais e incertas",
disse ontem, em discurso na Assembléia Nacional, o Congresso
Nacional de Cabo Verde.
Segundo Lula, é "inadmissível
que multidões permaneçam em
extrema pobreza devido a barreiras comerciais impostas pelos
países desenvolvidos".
E completou: "Os pequenos
produtores agrícolas competitivos dos países pobres são prejudicados por práticas comerciais injustas e muitas vezes hipócritas".
O chamado eixo Sul-Sul é uma
das prioridades da política externa do presidente Lula, e compreende os países fora da trinca
EUA-União Européia-Japão, como China e África do Sul.
A cerca de 70 deputados cabo-verdianos, Lula disse que não se
pode "relegar a segundo plano o
flagelo da escassez e da pobreza
que aflige mais de um bilhão de
pessoas no mundo".
Defendeu a reforma no Conselho de Segurança da ONU, uma
das principais bandeiras da viagem pela África, e conseguiu uma
declaração de apoio de Cabo Verde à intenção brasileira.
Disse querer que o Mercosul seja o "pilar" da nova geografia econômica. Ao citar a vitória do Brasil na OMC contra os subsídios do
algodão, afirmou que não quer
"esperar décadas para ter outra
chance de liberalizar o comércio
mundial naqueles bens e serviços
onde somos competitivos".
O discurso de Lula incluiu a
questão da segurança, tema caro a
países europeus e aos Estados
Unidos. Para Lula, não haverá estabilidade econômica internacional nem proteção contra o terrorismo enquanto não houver prioridade na construção de uma ordem econômica mais justa. "A fome hoje é a principal arma de destruição em massa que ameaça a
humanidade."
"Mão de duas vias"
O discurso de cooperação entre
os países em desenvolvimento já
havia sido feito durante o Seminário Empresarial Brasil-Cabo Verde, pela manhã.
No encontro, Lula cometeu um
equívoco. Ao defender que o comércio seja igual para todos as nações, disse: "O comércio exterior é
uma mão de duas vias". Queria
dizer "uma via de duas mãos".
Dois empresários de Fortaleza
que estavam no local reivindicaram melhores condições de transporte marítimo para exportar as
mercadorias da cidade para Cabo
Verde, percurso feito semanalmente pelas sacoleiras do país.
O presidente Lula assinou um
acordo com Cabo Verde para
aprimorar as condições de vôo
nesse trecho, realizado atualmente apenas uma vez por semana.
O Brasil ajudará Cabo Verde a
instalar a primeira universidade
pública daquele país. Acordo firmado ontem entre os ministros
da Educação dos dois países prevê
que a UnB (Universidade de Brasília) e a Federal do Ceará participarão do processo.
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