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70% do Congresso pode ser comprado, diz dono da Planam
"Se não vendêssemos, outros venderiam, tanto é que hoje deve estar acontecendo a mesma coisa", diz empresário
Proprietário da Frontal, que fornecia equipamentos para ambulâncias, declara que pode revelar os nomes das outras empresas na Justiça
ADRIANO CEOLIN
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontados como integrantes
da máfia dos sanguessugas,
Darci Vedoin, Ronildo Pereira
Medeiros e Ivo Spínola reforçam, em depoimentos à CPI
dos Sanguessugas, as declarações já prestadas pelo empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin à Justiça Federal do Mato
Grosso. A Folha obteve acesso
às íntegras dos três depoimentos, prestados em sessões secretas da comissão no dia 13 de
julho, em Cuiabá (MT).
O depoimento expõe a visão
que Darci Vedoin -dono da
Planam e pai de Luiz Antonio-
tem do Congresso. Em três trechos do depoimento, Darci
afirma que até 70% dos 513 deputados e dos 81 senadores são
corruptíveis: "Tem muitos deputados e muitos senadores
-muitos!- que são honestos.
Mas tem 70%, que só faz o cargo dele para isso [corrupção]".
Noutro trecho, o empresário
dá a entender que usou o termo
como força de expressão: "Não
estou dizendo dizendo que é
todo mundo. Quando eu falei
que tem 70%, tomara que tenha só 10%. Tomara!". Em um
trecho, Darci diz que a Casa Civil na gestão Lula só liberava
emendas para quem apoiava o
governo, mas descarta uma infiltração do esquema no órgão.
Mas afirmou que o Ministério
da Saúde compra ambulâncias
para o Samu a preços mais altos que os da Planam: ele cobra
R$ 100 mil, e o governo compra
ambulâncias a R$ 122.500,00.
Dono da Frontal (empresa
da quadrilha que forneceria
equipamentos para ambulâncias), Ronildo Medeiros diz que
esquemas fraudulentos de
emendas estão sendo executados hoje, apesar de a máfia dos
sanguessugas ter sido presa.
"Se não vendêssemos, outros
venderiam. Tanto é que hoje
deve estar acontecendo a mesma coisa. Nós estamos fora do
circuito, e está acontecendo da
mesma forma", disse Ronildo.
Ele preferiu não citar para a
CPI os nomes das empresas.
Disse que voltaria a falar sobre
assunto somente no seu depoimento à Justiça. "Senador, eu
posso até, na defesa, fazer isso
[revelar os nomes das empresas que continuam operando]".
Tanto Ronildo quanto Darci
prestaram novos depoimentos
à Justiça do Mato Grosso. Como Luiz Antonio já havia feito,
os dois também fizeram acordo
para delação premiada. A CPI
deve receber os dois depoimentos entre amanhã e terça.
À CPI, Ronildo disse que a
Maria da Penha Lino (que trabalhou na Planam e depois no
Ministério da Saúde) era uma
"pessoa próxima" do ex-ministro e atual deputado federal Saraiva Felipe (PMDB-MG): "Parece que ela tinha contato com
o ministro anteriormente".
A deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) insistiu na
pergunta: "Ela era mais próxima?" Ronildo respondeu:
"Exatamente... Inclusive ela falou isso aí para mim algumas
vezes". Foi o dono da Frontal
também que citou a senadora
Serys Slhessarenko (PT-MT) e
Magno Malta (PL-ES) como
participantes do esquema.
Ivo Spínola disse que passou
a participar do esquema para
montar, na Bahia, uma empresa de carroceria de ônibus e
que o grupo tentou viabilizar o
projeto com financiamento
junto ao Banco do Nordeste.
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