São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Elite usa a internet para se mobilizar contra a corrupção

Grupos formados por empresários e classe média reúnem gente famosa, mas não formularam propostas de mudança

Com Sandy, Luciano Huck e Hebe, movimentos apóiam discurso empresarial sobre impostos e cobram regras transparentes na política

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se este é o Brasil que você quer, clique aqui."
É com base em apoios por meio de cliques na internet, telefonemas e muita conversa nos fóruns da rede que caminham novos grupos de protesto formados pela classe média e alta no rastro da crise política.
As mensagem acima é do "Quero mais Brasil". Nascido da discussão de empresários do Grupo Estratégico de Competitividade da Amcham (Câmara Americana de Comércio), reúne hoje gente famosa e se autodenomina um movimento que quer fazer com que "o eterno país do futuro se torne o Brasil do presente". Apresenta-se ainda como "apartidário" e não faz menções diretas ao governo.
"O que aconteceu foi uma percepção. Todos estudaram, foram trabalhar e aí bateu a crise de cidadania", diz o advogado Lincoln da Cunha Pereira Filho, 46, um dos conselheiros do grupo, ao lado de nomes da Saúde, como Adib Jatene, estrelas como Luciano Huck e empresários como Antônio Ermírio de Moraes. Com apoio voluntário, o movimento levou a mensagem de graça à mídia.
Nada mais distante dos movimentos sociais tradicionais, como os sem-teto e os sem-terra, formados por aglomerações anônimas e pauperizadas, que conseguem espaço no noticiário graças a estratégias de ação violentas -como a invasão da Câmara pelo MLST, em junho.
O "Quero mais Brasil" mantém escritório em ala emprestada por uma empresa de informática. Um número telefônico nacional para receber "apoio" foi criado por acordo de empresas de telefonia. "Não tenho idéia", diz, sobre as somas envolvidas, a jornalista Maria Clara do Prado, coordenadora-executiva do movimento. Segundo ela, a contabilidade é difícil porque recursos vêm principalmente de serviços e produtos doados. A proposta concreta apresentada até o momento, capitaneada pelas associações comerciais de São Paulo, foi de todos os produtos mostrarem o quanto de imposto está embutido em seu preço, entregue ao Congresso com apoio de mais de 1 milhão de assinaturas. O tema foi escolhido porque o lugar "mais sensível" é o bolso, diz Pereira Filho, que afirma que só consciente do que paga a população irá exigir.
"Primos pobres" do "Quero Mais Brasil", os integrantes do "Reforma Brasil" também têm feito barulho. Empresário do setor de equipamentos hospitalares, o goiano Samuel Shael dos Santos, 36, diz ter vendido o carro para garantir trio elétrico e outros adereços e às manifestações públicas do movimento, articuladas no site de relacionamentos Orkut.
"Temos bandeiras, só que não formatadas", diz.
Recentemente, o grupo se aproximou do PNBE (Pensamento Nacional de Bases Empresariais), com a idéia de abarcar algumas de suas propostas. "Se não conseguirmos nada, a gente faz um documentário", diz Santos, que estuda cinema.
"O que eu sinto é que ainda falta romper a barreira da ação. Entramos muito no protesto vazio", afirma Rosângela Giembinsky, vice-coordenadora da Voto Consciente, que desde 87 acompanha o desempenho de vereadores e deputados.
"A sociedade em geral está muito insatisfeita, o que se traduz em movimentos que se manifestam de acordo com renda e escolaridade. Um fator inovador é a internet, capaz de construir redes", diz Ana Maria Doimo, professora do Departamento de Ciência Política da UFMG. "Mas é interessante: ao mesmo tempo que requerem regras transparentes, seus mecanismos de financiamento são cada vez mais obscuros."


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