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ELEIÇÕES 2002
PRESIDENTE
Após ressalvar "defeitos de visão política" dos militares, petista destaca boom de emprego em 1970
Lula elogia governo Médici
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, fez ontem elogios ao governo do general Emílio Garrastazu Médici, cuja gestão como presidente (1969-74) marcou o período de maior repressão política e
policial do regime militar.
"Em 1970, no auge da ditadura
militar, em que o presidente Médici andava perseguindo os meus
companheiros do PT, nós vivemos o maior boom de empregos
da história desse país, a um crescimento de 10% ao ano", disse Lula,
em entrevista ao "Bom Dia Brasil", da Rede Globo.
A menção a Médici -na verdade, ao regime militar de um modo
geral- foi feita por Lula como
contraposição ao que considera
falta de planejamento estratégico
do atual governo.
"O Brasil em três momentos foi
pensado em longo prazo e planejado estrategicamente. No governo Getúlio [Vargas], no governo
Juscelino [Kubitschek] e com os
militares", declarou o petista.
Lula elencou algumas realizações dos militares no poder: "Os
militares, com todos os defeitos
de visão política que tiveram,
pensaram o Brasil estrategicamente, porque construíram o
Proalcool, construíram o pólo petroquímico, construíram um sistema de telecomunicações razoável", declarou.
Ele lembrou dos planos decenais dos militares, em que o Brasil
era pensado para períodos de dez
anos. "O defeito é que hoje o Brasil é pensado apenas de mandato
em mandato. E como o mandato
é de quatro anos, não dá para as
pessoas executar as políticas".
O presidenciável prometeu que,
se ganhar as eleições, o planejamento terá papel importante. "Se
você não pensar para gerações,
você não constrói nada."
Ao ser questionado pelos entrevistadores a respeito do fato de
uma das heranças dos militares
ter sido altas taxas de inflação, Lula respondeu: "Não é verdade".
Apesar dos elogios, o petista
procurou explicitar sua crítica à
repressão do período. Disse que
"não vale a pena viver sem liberdade". "É por isso que eu luto por
democracia",completou.
Reincidência e yuppies
Não é a primeira vez que o petista faz menções elogiosas ao período de exceção. Em julho do ano
passado, ao visitar o lago de Furnas Centrais Elétricas, em Minas,
Lula disse que "por mais que tenhamos sofrido na mão deles, eles
criaram o pólo petroquímico e as
empresas de energia".
À tarde, em campanha no Rio,
Lula comparou o mercado financeiro a um "Deus onipotente" e
prometeu que, se eleito, estabelecerá um novo contrato social entre governo e sociedade para tentar resolver os problemas sociais e
econômicos do país.
"Não existe mais povo, não
existem mais problemas sociais, é
só o mercado, como se ele fosse
um Deus onipotente. Agora, é o
yuppie do mercado que aparece
[na TV] falando do problema do
mercado. Nós entendemos que isso tem que mudar", afirmou.
Lula disse que, por falta de diálogo com a sociedade, o governo
federal socorreu, por intermédio
do Banco Central, o ex-banqueiro
Salvatore Cacciola, em 1999.
Sarney
Na entrevista à Rede Globo, Lula também procurou justificar a
aliança com o ex-presidente José
Sarney (PMDB-AP), de quem obteve apoio formal na terça-feira. O
petista alegou que hoje há um
"momento histórico" diverso do
vivido nos anos 80, quando seu
partido era um dos principais críticos do governo Sarney.
"Você analisa as coisas em função do momento histórico. Queremos o apoio das pessoas mais
experientes não apenas para ganhar a eleição, mas para governar", declarou, em entrevista ao
"Bom Dia Brasil".
O petista, que já chamou o ex-presidente de "grileiro", afirmou
não ver problema em trocas de
acusações passadas. "Não podemos prescindir da experiência das
pessoas que já passaram pelo cargo. Até porque não queremos cometer erros cometidos no passado", declarou o petista.
O presidenciável retomou a crítica ao projeto da Petrobras de encomendar plataformas no exterior. Ele prometeu que em seu governo as plataformas da Petrobras serão construídas no Brasil
sempre que a indústria naval brasileira tiver capacidade. Sinalizou
ainda que isso ocorrerá nem que
seja preciso fazer intervenção na
Petrobras. "A Petrobras é subordinada ao Presidente da República. Às vezes, pode ficar 5% mais
barato construir lá fora, mas os
custos sociais acabam fazendo
com que fique mais caro", disse.
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