São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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NO AR

Verdades e mentiras

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

E Ciro Gomes apelou para sua maior arma, Patrícia Pillar. Mas bem que poderia ter evitado o abraço de ACM, imediatamente antes, no horário eleitoral.
Poderia também ter evitado que ela começasse dizendo ser mera "força de expressão" quando Ciro, segundo os outros, "não diz a verdade". A defesa é o que existe de mais ineficaz, em propaganda.
Mas a atriz também foi ao ataque, afirmando que Ciro "é diferente dos outros políticos", "é diferente de tudo que está aí", enfim, "é honesto".
Patrícia, que fechou seu pequeno discurso se dizendo "mulher" de Ciro, entrou de uma vez no jogo, para o que der e vier. Agora é só esperar, que virá.
 
Vai ficando claro que Ciro Gomes, em sua estratégia de contrapropaganda, fará com José Serra exatamente o que o tucano fez com ele.
No site de Ciro, está lá o questionamento da "incoerência" tucana, expressão usada como eufemismo de "mentira" -a marca que Serra pregou nele. Pergunta-se no site, sobre uma promessa tucana:
- Será que é verdade?
Nos telejornais, a afirmação foi ainda mais direta, da boca do próprio Ciro Gomes, sob controle, em coletiva:
- Serra está faltando com a verdade.
Mas nada se compara, é claro, à abrupta intervenção de Itamar Franco na campanha, chamando Serra de "mentiroso" e dizendo que ele não apoiou o Plano Real.
Supostamente em aliança com Lula, Itamar fez só repetir o que Ciro vinha dizendo sem parar, contra o tucano.
O mais provável é que seja uma das pequenas vinganças do errático governador -ele que não conseguiu ser o vice de Serra nem a liberação de verbas para seu governo. Mas a declaração veio por demais afinada com a nova estratégia de Ciro para ser coincidência.
Itamar, que diz votar em Lula, parece ter outro candidato no primeiro turno.
 
Lula nem parece estar em campanha, na verdade. Ele foi ao Bom Dia Brasil, para mais uma das longas entrevistas da Globo, e o ambiente foi estranhamente anódino, a começar das perguntas.
Não que os entrevistadores não tenham tentado. Questionaram o petista duas, até três vezes sobre temas como alianças e falta de preparo, mas ele escorregava -e parecia não haver por que insistir.
É como se a TV aceitasse que ele vai para o segundo turno e, portanto, não há conflito para explorar, agora.
De seu pedestal, Lula sorri, tranqüilo, mas com um olho na taxa de rejeição.



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