São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Partido não acha origem de R$ 3,28 mi depositados em sua conta; CPI derruba versão de que só ex-tesoureiro sabia do esquema de saques

PT dá dez dias para Delúbio explicar dinheiro

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A direção nacional do PT não conseguiu identificar a procedência de R$ 3,28 milhões de depósitos em dinheiro na conta do partido, de dezembro de 2003 a maio de 2005. Solicitou ao ex-tesoureiro Delúbio Soares que ajude a identificar a origem dos recursos.
Análise preliminar da CPI dos Correios indica que alguns dos depósitos devem ser transferências das contas 123.456 e 133.333 para a de número 13.000, todas mantidas pelo PT na agência 3.344 do Banco do Brasil. Ainda ficam duas dúvidas: 1) qual foi a procedência do dinheiro na conta receptora inicial?; e 2) por que alguns depósitos foram em dinheiro, sem identificação de origem, realizados na boca do caixa (conforme demonstram os extratos)?
No início da noite, a direção nacional do PT emitiu a seguinte nota: "Em relação aos depósitos realizados na conta-movimento do Diretório Nacional do PT nos exercícios de 2003 e 2004, objeto de questionamento de reportagem da Folha de S.Paulo, informamos que estamos realizando um levantamento de dados na conciliação de contas bancárias e notificando o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para que, no prazo de dez dias, forneça subsídios para esclarecimentos finais".
Ao todo, são 23 depósitos em análise. Todos em valores redondos, variando de R$ 20 mil a R$ 300 mil. O período abrangido pelos extratos vai de 15 de dezembro de 2003 a 31 de maio de 2004. Nessa época, estava em pleno vigor a relação entre o PT e o empresário Marcos Valério de Souza, apontado como um dos provedores de dinheiro de caixa dois para a sigla.
Segundo declarou o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, "é, no mínimo, incomum esse tipo de depósito em dinheiro".
Só dois dos 23 depósitos em dinheiro têm a identificação de quem teria realizado a operação. Em 29 de dezembro de 2003, Carlos Alberto Timóteo aparece como "portador". Em 6 de janeiro de 2004 há outro depósito de R$ 300 mil, tendo como "portador" Alex Vieira Costa. Timóteo é funcionário do PT. Costa já trabalhou para o partido, mas hoje está desligado da sigla. Procurados, nenhum quis fornecer explicações.
Mesmo que o partido venha a provar a origem lícita dos depósitos, chamou a atenção da CPI dos Correios a dificuldade para entender as contas do partido. Em tese, as demonstrações financeiras deveriam ser de fácil compreensão. Mas a própria direção atual do PT diz ter dificuldades para entender como Delúbio lançava as informações contábeis da sigla.
A CPI requereu esses extratos para detalhar a dívida de R$ 29.436,26 do presidente Lula com o PT. O débito foi saldado de forma parcelada de dezembro de 2003 a março de 2004. Em dias anteriores aos pagamentos feitos para quitar a dívida de Lula, há saques em valores semelhantes. Na nota de ontem, a direção do PT negou relação entre os saques e os pagamentos da dívida de Lula.

Versão de Delúbio cai
Parlamentares da CPI dos Correios avaliam que afirmação de um ex-assessor do deputado José Dirceu (PT-SP), que disse à Folha que no ano passado procurou as empresas de Valério por indicação do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, derruba a versão de Delúbio de que somente ele, Delúbio, sabia do esquema de saques nas contas do publicitário.
"Estou convencido que além do tesoureiro, Silvio Pereira, Marcelo Sereno [ex-secretário de Comunicação do PT] e o [ ex-presidente da legenda José] Genoino sabiam do esquema envolvendo o Marcos Valério", afirmou o senador petista Sibá Machado (AC) .
Antonio Lucas Buzato, que foi lotado no gabinete de José Dirceu entre 27 de março de 2002 e 1º de janeiro de 2003, afirmou que no início de 2004 foi procurado por candidatos a prefeito no Estado de São Paulo para que os ajudasse na arrecadação para as campanhas. Ele afirmou que conversou com Silvio Pereira, que o orientou a pegar um telefone com uma das funcionárias do partido.
O nome de Buzato aparece na lista de sacadores que Marcos Valério entregou à Polícia Federal e à CPI dos Correios. Porém, a CPI ainda não encontrou saques em nome de Buzato, que nega ter sacado das contas do publicitário. Silvio Pereira negou que tenha recomendado a Buzato entrar em contato com empresas de Valério.


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