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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Partido não acha origem de R$ 3,28 mi depositados em sua conta; CPI derruba versão de que só ex-tesoureiro sabia do esquema de saques
PT dá dez dias para Delúbio explicar dinheiro
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A direção nacional do PT não
conseguiu identificar a procedência de R$ 3,28 milhões de depósitos em dinheiro na conta do partido, de dezembro de 2003 a maio
de 2005. Solicitou ao ex-tesoureiro Delúbio Soares que ajude a
identificar a origem dos recursos.
Análise preliminar da CPI dos
Correios indica que alguns dos
depósitos devem ser transferências das contas 123.456 e 133.333
para a de número 13.000, todas
mantidas pelo PT na agência
3.344 do Banco do Brasil. Ainda
ficam duas dúvidas: 1) qual foi a
procedência do dinheiro na conta
receptora inicial?; e 2) por que alguns depósitos foram em dinheiro, sem identificação de origem,
realizados na boca do caixa (conforme demonstram os extratos)?
No início da noite, a direção nacional do PT emitiu a seguinte nota: "Em relação aos depósitos realizados na conta-movimento do
Diretório Nacional do PT nos
exercícios de 2003 e 2004, objeto
de questionamento de reportagem da Folha de S.Paulo, informamos que estamos realizando
um levantamento de dados na
conciliação de contas bancárias e
notificando o ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares para que, no prazo de dez dias, forneça subsídios
para esclarecimentos finais".
Ao todo, são 23 depósitos em
análise. Todos em valores redondos, variando de R$ 20 mil a R$
300 mil. O período abrangido pelos extratos vai de 15 de dezembro
de 2003 a 31 de maio de 2004. Nessa época, estava em pleno vigor a
relação entre o PT e o empresário
Marcos Valério de Souza, apontado como um dos provedores de
dinheiro de caixa dois para a sigla.
Segundo declarou o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, "é,
no mínimo, incomum esse tipo
de depósito em dinheiro".
Só dois dos 23 depósitos em dinheiro têm a identificação de
quem teria realizado a operação.
Em 29 de dezembro de 2003, Carlos Alberto Timóteo aparece como "portador". Em 6 de janeiro
de 2004 há outro depósito de R$
300 mil, tendo como "portador"
Alex Vieira Costa. Timóteo é funcionário do PT. Costa já trabalhou
para o partido, mas hoje está desligado da sigla. Procurados, nenhum quis fornecer explicações.
Mesmo que o partido venha a
provar a origem lícita dos depósitos, chamou a atenção da CPI dos
Correios a dificuldade para entender as contas do partido. Em tese,
as demonstrações financeiras deveriam ser de fácil compreensão.
Mas a própria direção atual do PT
diz ter dificuldades para entender
como Delúbio lançava as informações contábeis da sigla.
A CPI requereu esses extratos
para detalhar a dívida de R$
29.436,26 do presidente Lula com
o PT. O débito foi saldado de forma parcelada de dezembro de
2003 a março de 2004. Em dias anteriores aos pagamentos feitos para quitar a dívida de Lula, há saques em valores semelhantes. Na
nota de ontem, a direção do PT
negou relação entre os saques e os
pagamentos da dívida de Lula.
Versão de Delúbio cai
Parlamentares da CPI dos Correios avaliam que afirmação de
um ex-assessor do deputado José
Dirceu (PT-SP), que disse à Folha
que no ano passado procurou as
empresas de Valério por indicação do ex-secretário-geral do PT
Silvio Pereira, derruba a versão de
Delúbio de que somente ele, Delúbio, sabia do esquema de saques
nas contas do publicitário.
"Estou convencido que além do
tesoureiro, Silvio Pereira, Marcelo
Sereno [ex-secretário de Comunicação do PT] e o [ ex-presidente
da legenda José] Genoino sabiam
do esquema envolvendo o Marcos Valério", afirmou o senador
petista Sibá Machado (AC) .
Antonio Lucas Buzato, que foi
lotado no gabinete de José Dirceu
entre 27 de março de 2002 e 1º de
janeiro de 2003, afirmou que no
início de 2004 foi procurado por
candidatos a prefeito no Estado
de São Paulo para que os ajudasse
na arrecadação para as campanhas. Ele afirmou que conversou
com Silvio Pereira, que o orientou
a pegar um telefone com uma das
funcionárias do partido.
O nome de Buzato aparece na
lista de sacadores que Marcos Valério entregou à Polícia Federal e à
CPI dos Correios. Porém, a CPI
ainda não encontrou saques em
nome de Buzato, que nega ter sacado das contas do publicitário.
Silvio Pereira negou que tenha recomendado a Buzato entrar em
contato com empresas de Valério.
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