São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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Receita suspeita de movimentação financeira em agências de Valério

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Receita Federal detectou indícios de "omissão" na origem de depósitos recebidos e pagamentos a "beneficiários não identificados" em quatro empresas do grupo de Marcos Valério de Souza, segundo documento oficial enviado à CPI dos Correios, no dia 18 deste mês, e obtido pela Folha.
Em outras palavras, existem suspeitas de movimentação de caixa dois e de lavagem de dinheiro, segundo auditor fiscal ouvido pela reportagem.
Somadas, as agências publicitárias DNA Propaganda, SMPB Comunicação, Graffiti Participações e 2S Participações movimentaram, entre 2000 e 2004, R$ 1,44 bilhão-sendo que R$ 1,34 bilhão foi movimentado somente pelas duas primeiras agências.
"Deve-se observar que a elevada movimentação financeira apresentada nos últimos cinco anos, confrontada com os reduzidos valores de rendimentos pagos pela SMPB e DNA a outras empresas (...) caracteriza: indício de omissão de rendimentos e (...) indício de que foram efetuados pagamentos a beneficiários não identificados", informa o relatório.
A Receita Federal acrescenta que a verificação da origem dos recursos depositados nas contas das duas empresas, assim como os beneficiários não identificados, só poderá ser feita mediante análise dos dados bancários das companhias, o que a CPI dos Correios já requisitou.
A Receita constatou que a DNA declarou receita bruta muito inferior ao que recebeu de outras companhias. Nos últimos cincos anos, empresas informaram à Receita, por meio de DIRF (Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte), terem pago à agência DNA R$ 129 milhões.
A agência de publicidade da qual Valério é sócio, no entanto, comunicou receita bruta de R$ 49,878 milhões, o que indica, segundo a Receita, "omissão" de rendimentos.
Chamou também a atenção dos auditores o fato de os pagamentos feitos pela SMPB a outras empresas (R$ 9,716 milhões) corresponder a menos de 10% de sua receita bruta (R$ 114 milhões).

Fiscalização
Em relação à DNA, a Receita Federal destacou que a agência de publicidade foi alvo de fiscalização, referente aos anos de 1998 a 2002, que resultou em multa de R$ 63,25 milhões e formalização de representação fiscal para fins penais, conforme a Folha publicou no dia 29 de junho.
A empresa foi autuada por crimes contra a ordem tributária. Nessa fiscalização, os auditores já haviam identificado movimentação financeira supostamente incompatível com a receita da empresa e recebimento de recursos de origem não comprovada, entre outras irregularidades.

Outro lado
Por meio de sua assessoria, a DNA Propaganda informou ontem que toda a movimentação financeira da empresa tem origem comprovada, assim como todos os pagamentos efetuados pela agência de publicidade, como para veículos de comunicação, gráficas e demais fornecedores.
A DNA afirma que jamais foi usada para movimentar caixa dois ou para lavagem de dinheiro. E acrescenta que, ao final das investigações, ficará comprovado que não realizou operações financeiras ilegais.
A SMPB, por meio de sua assessoria, disse que agências de propaganda têm dois tipos de receita: o faturamento próprio e o dinheiro que recebe dos clientes para custear a campanha publicitária.
Segundo a assessoria, a receita própria da agência soma, em média, R$ 30 milhões por ano. Os repasses a fornecedores e veículos de comunicação variam de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões anuais. Além destes valores, a empresa movimentou mais de R$ 200 milhões, de 2003 a 2004, entre empréstimos e renovações para o PT.
SMPB diz ainda que teria como justificar os R$ 583 milhões movimentados entre 2000 e 2004.


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