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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS
Segundo a comissão, sigilos do chefe-de-gabinete do ministro, Juscelino Dourado, suspeito de tráfico de influência, devem cair hoje
CPI quer fim de sigilos de assessor de Palocci
HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), afirmou que serão
quebrados hoje os sigilos bancário, telefônico e fiscal de Juscelino
Antonio Dourado, chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Sob suspeita de tráfico de influência, Dourado deve depor hoje na comissão, que fecha um cerco a Palocci, investigando seus
atuais e ex-assessores.
Um relatório em poder dos senadores aponta que o advogado
Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto,
ligou quatro vezes para o gabinete
do ministro em maio de 2003. Buratti diz que, naquele mês, o ministro atendeu empresários do
grupo Somague a pedido dele.
O grupo Somague é associado
da empresa Leão Leão numa concessionária de rodovias de São
Paulo, a Triângulo do Sol. Buratti
foi vice-presidente da Leão Leão
até março de 2004. O grupo nega
ter requisitado a ajuda de Buratti.
Segundo Garibaldi, a quebra de
sigilo é necessária para "verificar
até onde ia a articulação dele [Juscelino] com Buratti" em suposto
tráfico de influência dentro do
Ministério da Fazenda.
Buratti foi ex-secretário de Governo de Palocci entre 1993 e 1994,
quando o ministro era o prefeito
de Ribeirão Preto. Na semana
passada, em depoimento à CPI, o
ex-secretário acusou o ministro
de receber R$ 50 mil por mês da
empresa Leão Leão, da área de coleta de lixo, em 2001 e 2002.
"Não há dúvida de que houve
tráfico de influência no ministério", afirmou ontem o senador
Álvaro Dias (PSDB-PR), que ainda quer a convocação de Palocci,
medida descartada por enquanto
pela CPI dos Bingos.
Segundo Garibaldi, serão quebrados hoje também os sigilos de
Vladimir Poletto, ex-funcionário
da Prefeitura de Ribeirão Preto
(SP) quando Palocci foi prefeito
em 2001 e 2002.
Escutas telefônicas
Escutas telefônicas feitas com
autorização judicial apontam um
diálogo de Buratti com Poletto interessado em agendar com o ministro um encontro com o presidente do banco Prosper, Edson
Menezes. A conversa foi em julho
de 2004. Três meses depois, Palocci recebeu Menezes.
Ainda na escuta, Poletto diz que
o assessor particular de Palocci,
Ademirson Ariovaldo da Silva, ligou pedindo o telefone do presidente do banco Prosper. Em resposta, Buratti diz que conversara
com "Jota" e que o interesse de
Ademirson deveria ser a "agenda" do ministro. Segundo o Ministério Público Estadual, "Jota" é
uma referência a Dourado.
Ademirson é amigo de Buratti.
Em 2003, segundo a CPI, o advogado ligou 12 vezes para o celular
do assessor do ministro.
Tanto no caso da Somague como no do banco Prosper, o Ministério da Fazenda nega que Buratti
tenha agendado os encontros
com o ministro. Buratti, porém,
admitiu que pediu a Dourado o
encontro do ministro com o empresário João Vaz Guedes, presidente do Somague, grupo português de construção civil, no dia 13
de maio de 2003.
Em depoimento à CPI e durante
entrevista publicada na Folha domingo, Buratti nega tráfico de influência. Esse crime, segundo o
Código Penal, consiste em usar o
cargo público para obter vantagens. A pena é de dois a cinco
anos de reclusão.
O advogado Enrico Gianelli,
que trabalhava para a multinacional GTech, também deve depor
hoje na CPI. A empresa acusa Buratti de tentar extorquir R$ 6 milhões para permitir a renovação
de um contrato com a Caixa Econômica Federal na área de loterias
em abril de 2002.
Na versão de Buratti, a GTech
pediu para que ele convencesse o
ministro a favorecer a empresa.
Em troca, o PT receberia até R$ 16
milhões em propina.
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