São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS

Segundo a comissão, sigilos do chefe-de-gabinete do ministro, Juscelino Dourado, suspeito de tráfico de influência, devem cair hoje

CPI quer fim de sigilos de assessor de Palocci

HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), afirmou que serão quebrados hoje os sigilos bancário, telefônico e fiscal de Juscelino Antonio Dourado, chefe-de-gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Sob suspeita de tráfico de influência, Dourado deve depor hoje na comissão, que fecha um cerco a Palocci, investigando seus atuais e ex-assessores.
Um relatório em poder dos senadores aponta que o advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto, ligou quatro vezes para o gabinete do ministro em maio de 2003. Buratti diz que, naquele mês, o ministro atendeu empresários do grupo Somague a pedido dele.
O grupo Somague é associado da empresa Leão Leão numa concessionária de rodovias de São Paulo, a Triângulo do Sol. Buratti foi vice-presidente da Leão Leão até março de 2004. O grupo nega ter requisitado a ajuda de Buratti.
Segundo Garibaldi, a quebra de sigilo é necessária para "verificar até onde ia a articulação dele [Juscelino] com Buratti" em suposto tráfico de influência dentro do Ministério da Fazenda.
Buratti foi ex-secretário de Governo de Palocci entre 1993 e 1994, quando o ministro era o prefeito de Ribeirão Preto. Na semana passada, em depoimento à CPI, o ex-secretário acusou o ministro de receber R$ 50 mil por mês da empresa Leão Leão, da área de coleta de lixo, em 2001 e 2002.
"Não há dúvida de que houve tráfico de influência no ministério", afirmou ontem o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que ainda quer a convocação de Palocci, medida descartada por enquanto pela CPI dos Bingos.
Segundo Garibaldi, serão quebrados hoje também os sigilos de Vladimir Poletto, ex-funcionário da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) quando Palocci foi prefeito em 2001 e 2002.

Escutas telefônicas
Escutas telefônicas feitas com autorização judicial apontam um diálogo de Buratti com Poletto interessado em agendar com o ministro um encontro com o presidente do banco Prosper, Edson Menezes. A conversa foi em julho de 2004. Três meses depois, Palocci recebeu Menezes.
Ainda na escuta, Poletto diz que o assessor particular de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, ligou pedindo o telefone do presidente do banco Prosper. Em resposta, Buratti diz que conversara com "Jota" e que o interesse de Ademirson deveria ser a "agenda" do ministro. Segundo o Ministério Público Estadual, "Jota" é uma referência a Dourado.
Ademirson é amigo de Buratti. Em 2003, segundo a CPI, o advogado ligou 12 vezes para o celular do assessor do ministro.
Tanto no caso da Somague como no do banco Prosper, o Ministério da Fazenda nega que Buratti tenha agendado os encontros com o ministro. Buratti, porém, admitiu que pediu a Dourado o encontro do ministro com o empresário João Vaz Guedes, presidente do Somague, grupo português de construção civil, no dia 13 de maio de 2003.
Em depoimento à CPI e durante entrevista publicada na Folha domingo, Buratti nega tráfico de influência. Esse crime, segundo o Código Penal, consiste em usar o cargo público para obter vantagens. A pena é de dois a cinco anos de reclusão.
O advogado Enrico Gianelli, que trabalhava para a multinacional GTech, também deve depor hoje na CPI. A empresa acusa Buratti de tentar extorquir R$ 6 milhões para permitir a renovação de um contrato com a Caixa Econômica Federal na área de loterias em abril de 2002.
Na versão de Buratti, a GTech pediu para que ele convencesse o ministro a favorecer a empresa. Em troca, o PT receberia até R$ 16 milhões em propina.


Texto Anterior: Ceará: Juiz eleitoral inocenta prefeito petista de acusação de compra de votos em 2004
Próximo Texto: Outro lado: Assessor silencia sobre decisão da CPI dos Bingos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.