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Após elogios, Senado aprova indicação de Direito ao STF
Ministro foi sabatinado por comissão e teve nome confirmado pelo plenário por 61 a 2
Votação na CCJ teve início antes mesmo da sabatina; indicado chorou e falou sobre religião, reforma do Judiciário e leis trabalhistas
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Coroado por elogios de senadores da oposição e do governo,
Carlos Alberto Direito teve sua
indicação ao cargo de ministro
do STF (Supremo Tribunal Federal) aprovada ontem pelo Senado. O parecer que defendeu a
indicação ressaltou, entre outras coisas, a "notória religiosidade e a inquebrantável fé" de
novo ministro.
Pela manhã, Direito passou
por sabatina de três horas e
meia em que chorou, fez brincadeiras e ouviu os primeiros
de uma série de elogios que se
repetiriam durante o dia. Foram 22 votos a favor e 1 em
branco, na Comissão de Constituição e Justiça.
Dos 23 integrantes titulares
da comissão, 20 aparecem listados em inquéritos, recursos
ou processos registrados no
STF, futura casa de Direito.
"No passado, os ateus eram discriminados pela intolerância
da igreja; agora, temos o contrário, a intolerância contra
quem é religioso", disse Eduardo Azeredo (PSDB-MG), integrante da CCJ, que deve ser denunciado ao Supremo sob a
acusação de ter reproduzido o
mensalão em Minas Gerais, na
campanha de 1998.
Como é comum nessas ocasiões, a maioria dos senadores
compareceu à sessão apenas
com o intuito de felicitar o indicado. A votação, secreta, teve
início antes mesmo de a primeira pergunta ser feita.
Valdir Raupp (RO), líder da
bancada do PMDB, foi o primeiro a falar e deu o tom. "Com
certeza ele está preparado para
exercer o cargo em toda a sua
plenitude", disse, solicitando a
abertura imediata da votação já
que ele tinha que sair para dar
uma palestra.
Serys Slhessarenko (PT-MT)
até chegou a fazer duas perguntas, mas disse a Direito que não
ouviria a resposta. "Infelizmente não vou poder esperar a
resposta porque vou ter que entrar ao vivo na TV", explicou.
No início da noite, o plenário
do Senado ratificou a decisão
da comissão, também em votação secreta, e também antecedida por vários discursos elogiosos, por 61 votos a favor, 2
contra e 1 abstenção.
Rapidez
Sétimo indicado ao STF pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, Direito é ministro do STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
e chega ao Supremo na vaga de
Sepúlveda Pertence, que se
aposentou. Seu principal "padrinho" é o ministro da Defesa,
Nelson Jobim.
A aprovação-relâmpago no
Senado -a indicação oficial saíra anteontem- se deu porque
Direito fará 65 anos em 8 de setembro, sendo que a Constituição estabelece 64 anos como limite para o ingresso na corte.
Direito não quis comentar a
troca de mensagens eletrônicas
entre ministros do STF na última semana. As conversas sugerem que o governo teria barganhado com os magistrados a
sua indicação.
Na parte em que foi questionado, ele falou sobre reforma
do Judiciário -considera o excesso de recursos uma das causas da lentidão da Justiça-, leis
trabalhistas, sem-terra e, principalmente, religião.
Direito reafirmou ser católico praticante, mas disse que
cumprirá as leis do Estado laico. "Não só acredito como pratico a vivência democrática do
estado laico. Tenho muito orgulho e honra da minha fé (...),
mas o juiz tem que obedecer rigorosamente o que determina
as leis e a Constituição", afirmou, dizendo que se curvará a
uma eventual liberação do
aborto pelo Congresso.
A respeito da pesquisa com
células-tronco de embriões humanos, disse que "a fé não pode
limitar a ciência nem a ciência
deve agredir a fé".
O momento que mais emocionou Direito foi quando explicou porque votou, no STJ,
em um processo a favor de uma
causa em que um dos filhos teria atuado. Ele afirmou que
apenas seguiu o voto de outro
ministro e que não tinha idéia
de que seu filho tinha atuado,
como estagiário, 11 anos antes.
"O julgamento foi anulado,
foi um incidente processual rotineiro". "O homem, por mais
digno que seja, não está livre da
maledicência", confortou-lhe
Jefferson Peres (PDT-AM).
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