São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Jobim manda recado a militares em lançamento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No lançamento oficial do livro "Direito à Memória e à Verdade", que acusa a ditadura militar por torturas e mortes, em evento no Planalto, o ministro Nelson Jobim (Defesa) deu um recado preventivo a eventuais críticas de militares. Disse que o país passa por processo de conciliação, que as Forças Armadas receberam o ato como "natural" e que "não haverá indivíduo que possa reagir".
"Se houver, haverá uma resposta", afirmou ele, sob aplausos da platéia de familiares das vítimas da ditadura, ministros e parlamentares, sobretudo do PT e do PSDB. Em conversas reservadas, ministros disseram que o discurso de Jobim foi uma forma de enquadrar as Forças Armadas, que, nos bastidores, criticam o livro.
Ele tem 500 páginas e foi produzido pela Secretaria dos Direitos Humanos com tiragem de 3.560 exemplares. Será distribuído para ONGs, bibliotecas públicas e órgãos oficiais.
Os militares aparentemente boicotaram o evento -não havia nenhum deles na cerimônia. A secretaria informou que os comandantes das três Forças foram oficialmente convidados, mas eles dizem que, se houve convite, foi por telefone, pois não há nada "protocolado" nos respectivos gabinetes.
Ao deixar o evento, o presidente Lula disse "não saber" se os militares gostaram ou não do livro, porque "não conversou" com eles. "Fui convidado pela secretaria, o Jobim foi convidado. Não sei se eles foram." Nos discursos, houve uma preocupação unânime de demonstrar que o livro, que conta a história de cerca de 400 militantes políticos, não é um ato de "revanchismo".
Lula foi o último a falar, leu um discurso e improvisou ao final. Disse que ações do gênero são indispensáveis para que esse passado "não se repita" e que o livro simboliza um sentimento de "reconciliação". Prometeu acelerar a busca pelos corpos até hoje desaparecidos, mas reconheceu: "É mais fácil falar e mais complicado fazer".
Ele também falou que esse processo se dará "sem revanchismo", até porque "a Lei da Anistia já está aprovada".
Responsável pela publicação, o secretário Paulo Vannuchi teve o cuidado de ressaltar, em sua fala, a contribuição das Forças Armadas hoje na defesa dos direitos humanos. Nos bastidores, os militares criticaram o livro, classificado de "extemporâneo" e "sem novidades".
A cerimônia teve tom emotivo. Pelo menos três ministros choraram -Dilma Rousseff e Franklin Martins, perseguidos pela ditadura, e Tarso Genro. (LETÍCIA SANDER)


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