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Jobim manda recado a militares em lançamento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No lançamento oficial do livro "Direito à Memória e à Verdade", que acusa a ditadura militar por torturas e mortes, em
evento no Planalto, o ministro
Nelson Jobim (Defesa) deu um
recado preventivo a eventuais
críticas de militares. Disse que
o país passa por processo de
conciliação, que as Forças Armadas receberam o ato como
"natural" e que "não haverá indivíduo que possa reagir".
"Se houver, haverá uma resposta", afirmou ele, sob aplausos da platéia de familiares das
vítimas da ditadura, ministros
e parlamentares, sobretudo do
PT e do PSDB. Em conversas
reservadas, ministros disseram
que o discurso de Jobim foi
uma forma de enquadrar as
Forças Armadas, que, nos bastidores, criticam o livro.
Ele tem 500 páginas e foi
produzido pela Secretaria dos
Direitos Humanos com tiragem de 3.560 exemplares. Será
distribuído para ONGs, bibliotecas públicas e órgãos oficiais.
Os militares aparentemente
boicotaram o evento -não havia nenhum deles na cerimônia. A secretaria informou que
os comandantes das três Forças foram oficialmente convidados, mas eles dizem que, se
houve convite, foi por telefone,
pois não há nada "protocolado"
nos respectivos gabinetes.
Ao deixar o evento, o presidente Lula disse "não saber" se
os militares gostaram ou não
do livro, porque "não conversou" com eles. "Fui convidado
pela secretaria, o Jobim foi
convidado. Não sei se eles foram." Nos discursos, houve
uma preocupação unânime de
demonstrar que o livro, que
conta a história de cerca de 400
militantes políticos, não é um
ato de "revanchismo".
Lula foi o último a falar, leu
um discurso e improvisou ao final. Disse que ações do gênero
são indispensáveis para que esse passado "não se repita" e que
o livro simboliza um sentimento de "reconciliação". Prometeu acelerar a busca pelos corpos até hoje desaparecidos,
mas reconheceu: "É mais fácil
falar e mais complicado fazer".
Ele também falou que esse
processo se dará "sem revanchismo", até porque "a Lei da
Anistia já está aprovada".
Responsável pela publicação,
o secretário Paulo Vannuchi teve o cuidado de ressaltar, em
sua fala, a contribuição das Forças Armadas hoje na defesa dos
direitos humanos. Nos bastidores, os militares criticaram o livro, classificado de "extemporâneo" e "sem novidades".
A cerimônia teve tom emotivo. Pelo menos três ministros
choraram -Dilma Rousseff e
Franklin Martins, perseguidos
pela ditadura, e Tarso Genro.
(LETÍCIA SANDER)
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