São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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RETÓRICA OFICIAL

Presidente afirma que adotou ""jeito diferente" de governar

Governo prefere consensos ao pensamento único, diz Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em discurso improvisado no Palácio do Planalto, que prefere exercer a autoridade ao poder. Segundo ele, seu governo "não é dono da verdade" nem busca impor um "pensamento único".
Em sua fala, durante solenidade na qual formalizou o envio de um projeto de lei ao Congresso para combater o trabalho informal, o presidente disse que seu "jeito de governar" é "culturalmente" diferente de seus antecessores.
"Eu adotei um jeito de governar um pouco diferente do que habitualmente e culturalmente se faz no Brasil. Eu duvido que em algum momento, em algum governo da história deste país, os segmentos da sociedade foram tão chamados a participar, a ajudar a elaborar as coisas como nós fazemos", afirmou o presidente.
Nesse contexto, Lula disse: "Eu resolvi que, ao invés de exercer o poder, é preciso exercer a autoridade. O que é exercer a autoridade? É quando, ao invés de você impor um pensamento único, você constrói com todos os envolvidos aquilo que é o consenso possível de ser feito com a sociedade."
Para Lula, a forma de governar "exercendo o poder" leva a erros. "O exercer o poder é que permite que você cometa todos os erros possíveis em função da legalidade de você ter sido eleito. E, portanto, você pensa que pode tudo."
Desde o início de seu mandato, o presidente tem sido acusado pela oposição de liderar um governo autoritário. Uma das bases dos opositores é o excesso de medidas provisórias editadas pelo Palácio do Planalto, deixando em segundo plano, segundo eles, as vias tradicionais do Congresso.
A tentativa de expulsão do país do correspondente do jornal norte-americano "The New York Times" e o envio de um projeto de lei ao Congresso que visa criar um conselho federal com poderes de fiscalizar e punir os jornalistas também fomentaram as críticas.
Ao atuar apenas sob o respaldo do poder, Lula diz que não teria a obrigação de consultar a sociedade. "Aí, você não precisa consultar ninguém, você consulta o seu advogado, consulta o seu assessor econômico e, a partir daí, faz a quantidade de leis que quiser, manda para o Congresso Nacional. E daí, o resultado de muitas leis serem aprovadas e, dez anos depois, vê-se que elas não funcionaram. Talvez, o Brasil seja o único país do mundo que tem lei que pega e lei que não pega, quando a lei é obrigação de todos."
Ao final do discurso, o presidente afirmou: "Eu não tenho dúvida nenhuma de que nós vamos fazer muito mais dessa forma, sempre sabendo que o governo não é dono da verdade e que não custa nada a gente ouvir os parceiros, porque quem ouve tem menos possibilidade de errar." (EDUARDO SCOLESE)


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