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PF apura pagamento a ex-assessor de Lula
Investigação mostra que R$ 98,5 mil, originários do valerioduto, foram depositados na conta da empresa de Freud Godoy
Em nome de Marcos Valério, seu advogado disse que "os esclarecimentos serão dados no foro competente"; Freud não respondeu às ligações
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, a Polícia Federal
investiga pagamento de R$ 98,5
mil originário do valerioduto
em 2003 para empresa de
Freud Godoy, então assessor
especial do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Os detalhes do pagamento
constam de um laudo elaborado pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística) com base
na quebra de sigilo, obtida pela
CPI dos Correios, da agência de
publicidade SMPB, que pertencia ao empresário Marcos Valério de Souza, o operador do
mensalão -esquema de desvio
de recursos destinado a financiamento de políticos.
Os beneficiários dos recursos
oriundos do valerioduto são alvos da segunda fase da investigação do mensalão, aberta em
abril deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal, também a pedido do procurador-geral, determinou a continuidade da apuração, centrada nos
envolvidos que ainda não haviam sido denunciados.
Na primeira fase do mensalão, Antonio Fernando denunciou 40 pessoas, entre os quais
os petistas José Dirceu, José
Genoino e Delúbio Soares e
também Valério. Na primeira
etapa, a investigação mirou
pessoas mais próximas à parte
operacional do esquema.
O pagamento investigado
agora foi feito pela agência
SMPB à empresa Caso Comércio e Serviços Ltda., da qual
Freud Godoy é sócio-fundador,
conforme registro na Junta Comercial de São Paulo. A empresa foi constituída em 6 de maio
de 1998, com capital social de
R$ 10 mil, tendo Freud como
sócio majoritário (R$ 9.500).
Conforme o laudo do INC,
em 21 de janeiro de 2003, há o
depósito de um cheque da
SMPB, do Banco Rural, nominal à Caso, na conta bancária da
empresa no Santander.
Trata-se de um único pagamento e, por ora, sem razão justificada. Acionada pela PF para
explicar as razões do pagamento, a Caso pediu mais tempo para reunir os documentos que
comprovariam eventual serviço prestado à SMPB.
Procurado pela Folha na Caso, Freud não ligou de volta.
Em nome de Marcos Valério, o
advogado Marcelo Leonardo
disse que, em relação ao pagamento, "a resposta e os esclarecimentos serão dados no foro
competente e no momento
oportuno".
Quando recebeu o pagamento considerado suspeito pelos
peritos, Freud era assessor especial da Presidência, função
para a qual foi contratado em
14 de janeiro de 2003.
Conforme o Estatuto do Servidor, Freud poderia receber
participação nos lucros, mas
não eventuais pagamentos havidos pela empresa. O relatório
do INC não informa, no entanto, se o dinheiro da SMPB, depois de depositado na conta da
Caso, foi sacado ou transferido
para conta de terceiros.
A empresa de Freud foi contratada em 2002 pela campanha de Lula. Apesar de no papel sua área de atuação constar
como "comércio atacadista de
produtos químicos", a Caso
prestou serviços de segurança
para a campanha de Lula.
Naquele ano, recebeu
R$ 101,5 mil do comitê eleitoral
presidencial. Foi contratada
também, por R$ 4.400, pela
Dirceu a deputado federal.
No ano passado, outra empresa da família de Freud foi
contratada pela campanha do
presidente. A Caso Sistemas de
Segurança recebeu R$ 309 mil
da campanha de Lula. A nova
empresa está no nome da mulher de Freud, Simone, e do irmão dela, Kleber Messeguer.
Guarda-costas de Lula há
anos, o nome de Freud se tornou conhecido nacionalmente
na eleição do ano passado, no
escândalo do dossiê. Freud foi
apontado inicialmente por Gedimar Passos, emissário petista
encarregado da negociação do
material contra o PSDB, como
a pessoa que havia autorizado o
pagamento pelo material.
A CPI dos Sanguessugas investigou o caso. Identificou ligações entre Freud e os petistas envolvidos na compra do dossiê, mas o inocentou. O desgaste, no entanto, o levou a se
desligar do Planalto, em 2006.
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