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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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REFORMA AOS PEDAÇOS

Governo quer votar projeto em 1º turno em 30 de novembro

Comissão do Senado aprova texto da reforma tributária

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma votação simbólica -houve apenas seis votos contrários-, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou ontem o texto-base da reforma tributária. A comissão é composta por 23 integrantes. Após a apreciação dos destaques, que deve ocorrer na próxima semana, o governo espera votar em plenário o primeiro turno em 30 de novembro, e o segundo, no dia 15 de dezembro.
O conteúdo aprovado ontem contempla temas vitais para o governo, como a prorrogação da CPMF (o imposto do cheque) com a alíquota de 0,38%, a DRU (desvinculação de 20% do Orçamento) e a cobrança de contribuições sociais sobre produtos importados, responsável por R$ 4,4 bilhões na previsão das receitas.
O relatório de Jucá alterou, porém, regras importantes da principal proposta do projeto: a unificação da legislação do ICMS. Se o plenário do Senado mantiver o texto, como é a tendência, o novo ICMS terá de ser novamente analisado pela Câmara, o que impedirá sua aprovação neste ano.
O verdadeiro embate, no entanto, foi prorrogado para a próxima semana, quando, na apreciação das mais de 400 matérias destacadas pelos senadores para votação em separado, a base do governo terá de enfrentar seu maior desafio: ceder ou não à reivindicação dos governadores e da oposição de transformar em investimento da União a fundo perdido nos Estados o que hoje, conforme o relatório aprovado, são linhas de financiamento contidas no Fundo de Desenvolvimento Regional.
"Se não tiver solução para o FDR, será muito difícil continuar a tramitação", disse Rodolpho Tourinho (PFL-BA), analisando a votação em plenário, instância em que os não-alinhados (PFL, PSDB e PDT) somam 34 votos. A base do governo tem 47.
Tourinho e Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentaram pareceres em separado ontem para marcar posição. Eles não foram apreciados, pois a preferência era para o texto do relator, Romero Jucá (PMDB-RR). Da mesma forma que Jucá, Jereissati e Tourinho postergam para 2007 a mudança na forma de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), ponto nevrálgico da reforma tributária.

Negociação
O relator foi o primeiro a sinalizar os caminhos para a negociação, de olho no cumprimento do prazo exíguo: votar o texto em plenário, em segundo turno, até 15 de dezembro. "Meu relatório está levando em consideração a insegurança [em relação à arrecadação] em um momento em que não há crescimento econômico."
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), ressalvou que o relatório de Jucá não é "a reforma que o país precisa", mas a possível no momento, tendo em vista a necessidade de iniciar a revisão da matriz tributária garantindo a arrecadação. Calheiros também defendeu o FDR no perfil pleiteado pelo governadores.
A votação do relatório foi simbólica. Votaram contra o relatório de Jucá os pefelistas César Borges (BA), Jorge Bornhausen (SC), José Jorge (PE) e Tourinho, além dos tucanos Tasso Jereissati (CE) e Eduardo Azeredo (MG).
"É evidente que estamos diante de uma reforma capenga, para fazer caixa para o governo, contra o contribuinte", disse Bornhausen.
Interessado na negociação, mas compromissado com os interesses do Palácio, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), foi mais comedido. "Não é criando mais um fundo que se vai resolver o problema do desenvolvimento regional. É preciso ter mais claros os objetivos."
Depois de criticar a proposta tucana -questionando a viabilidade de fundir no chamado IVA (Imposto sobre Valor Adicionado) todos os impostos e contribuições- e a do PFL -por ser contra a tributação progressiva do patrimônio-, Mercadante reafirmou a disposição do governo de achar uma saída para o impasse gerado em torno do FDR. Sinalizou com a possibilidade de condicionar a liberação das verbas à apreciação do Congresso.
Não há recursos no Orçamento para sustentar o FDR. A saída seria, conforme se discute nos bastidores, fechar a proposta agora para implantá-la somente em 2005.


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