São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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"Documentos devem ser abertos", diz dom Paulo

DA REDAÇÃO

Na Câmara Municipal de São Paulo, no aguardo dos manifestantes que acompanharam a homenagem ao metalúrgico Santo Dias da Silva, o arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, conversou rapidamente com a Folha. Na entrevista, falou sobre a reabertura de documentos da ditadura militar.
"Cada instituição tem suas regras. Eu, por exemplo, fui arcebispo de São Paulo por 28 anos e tinha regras fixas as quais devia obedecer. O Fernando Henrique [Cardoso], estabeleceu que alguns documentos que tratam de segredos militares só fossem abertos daqui a 50 anos. Então, o novo presidente, provavelmente em respeito a esse decreto, mas também por causa da irritação da ala dura do Exército- que soltou nota inconveniente esses dias-, não se conformaria se a abertura fosse imediata", disse.
O arcebispo diz que a abertura dos documentos deve ser feita imediatamente. "Porque ainda há pessoas que podem confirmar e testemunhar. Há quem possa acrescentar ou modificar alguma coisa porque pertenceram àquele tempo em que esses arquivos revelavam a tortura máxima no Brasil, sobretudo no tempo dos generais pós AI-5".
Perguntado sobre se há falta de união entre as Forças Armadas, Congresso, entre outros poderes, foi categórico. "Acho que não. Ninguém pode ir contra uma determinação do presidente da República. Se ele declarar que todos os documentos devem ser abertos ao público, nós temos simplesmente que obedecer. Mas, como existe uma linha dura dentro do Exército, que pode se revoltar, acredito que o presidente tome muito cuidado para não agravar uma dissidência dentro da própria corporação.
E o que poderia ser feito em relação à abertura imediata dos documentos? "O Lula tem plena liberdade em fazer o que quiser, e também a plena liberdade de não fazer nada."
Sobre o ato em homenagem a Santo Dias, disse que o metalúrgico é símbolo da luta contra os oprimidos e por isso conhecido em todo o Brasil. (KC)


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