São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-secretário defende a abertura dos arquivos

DO ENVIADO A CAXAMBU

O ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares disse ontem, em Caxambu (MG), ser favorável a "abrir inteiramente" os arquivos existentes da ditadura.
O fato de muitos documentos não terem ainda sido liberados, ele diz, acontece "em nome da precaução", mas, ao adiarem a sua divulgação, aumentam as tensões "entre civis e militares" e "entre militares e militares".
O governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sofrido pressões para rever um decreto editado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso [1995-2002], às vésperas da posse de Lula, que ampliou o prazo de indisponibilidade de documentos oficiais considerados sigilosos. Nesta semana, o ministro dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, anunciou que a revisão e a abertura dos arquivos serão feitas "sem pressa".

Enquadramento
O ex-secretário disse acreditar que os grupos militares que resistem à divulgação de documentos "não teriam como reagir" se o governo Lula, dentro de um princípio de autoridade, ordenasse que isso fosse feito.
"Se seguirmos a linha de autoridade e de hierarquia haveria enquadramento [dos descontentes]", afirmou o cientista social, atualmente professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Ele diz que a demora em abrir os arquivos da ditadura continua "animando esse personagem misterioso que são "as forças ocultas'", que cria a "expectativa de tensões".
"Esses grupos [militares] só têm poder na medida em que continuem a ser tratados como fontes misteriosas de um virtual poder tentacular que tem que ser sempre reverenciado. Se o governo agisse, não teriam como reagir."
Para o ex-secretário de Segurança Pública, há uma diferença, "que negligenciamos no Brasil", entre perdão e esquecimento.
Para que haja uma verdadeira reconciliação, ele disse, é necessário que a verdade apareça, e os fatos do regime militar sejam conhecidos do público.


Texto Anterior: "Documentos devem ser abertos", diz dom Paulo
Próximo Texto: Defesa e Exército não falam de suposto dossiê
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.