São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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RETA FINAL

Petista volta a acusar tucano de não ter proposta para a cidade; candidato do PSDB repete que Marta "gasta mal"

Marta "vende" realizações; Serra ataca gestão PT

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB) partiram para estratégias opostas no último debate entre os dois candidatos à Prefeitura de São Paulo, ontem à noite. Enquanto a prefeita realçava seu ímpeto realizador, o tucano destacava problemas administrativos da atual gestão.
Marta falou várias vezes ao longo dos blocos do que pretende fazer e de seus projetos, sendo incisiva ao acusar Serra de não apresentar propostas. "Eu não sou uma pessoa que fica reclamando. Eu sou uma pessoa da solução", disse a prefeita no quarto bloco, de embate direto entre os dois.
Serra, por sua vez, afirmava que há muitas falhas e demora justamente em resolver problemas administrativos. Para rebater as críticas, disse que sua principal promessa é "trabalhar desde a primeira hora". Por duas vezes, lembrou que quando ministro visitava os locais para verificar os problemas e dar soluções rápidas e disse que Marta não faz isso. Um dos exemplos foi uma "caldeira" no hospital do Campo Limpo (zona sul), tema que já havia sido abordado no debate anterior.
Muitos pontos do primeiro debate do segundo turno, aliás, foram abordados novamente no enfrentamento de ontem, como a verba do gabinete da prefeita e a disputa entre o governo e a prefeitura na área da habitação.
A petista tentou "colar" em Serra a imagem de evasivo em relação a suas propostas. Por exemplo, quando disse que o tucano não vai construir os 24 CEUs (Centros Educacionais Unificados) que constam da proposta de governo da petista.
Já o tucano quis passar a imagem de que Marta "gasta mal" o dinheiro da prefeitura e que parte para enfrentamentos desnecessários. Quando fez tréplica a resposta da petista sobre o transporte, frisou: "O dinheiro não é seu Marta, é da prefeitura".
Em outro ponto, disse que a petista "briga" com o governo Geraldo Alckmin (PSDB), principal cabo eleitoral do tucano, em vez de trabalhar em parceria.

"Arena"
A Globo utilizou, pela primeira vez nesta eleição, uma fórmula de "arena", em que os dois candidatos andavam livremente pelo cenário. Enquanto Serra ficava andando quando Marta falava, a petista preferia ficar parada em seu "corner" na hora em que o adversário respondia às perguntas. Poucas vezes olharam-se olhos nos olhos.
Na platéia, havia 39 indecisos "selecionados pelo Ibope entre paulistanos de todos os bairros, idades e profissões", nas palavras do apresentador Chico Pinheiro, o mediador. Eles puderam fazer questões no primeiro e no terceiro blocos. Foram selecionadas perguntas de 12 deles e os candidatos puderam escolher oito delas, sem saber quais eram.
Nos outros dois blocos, houve enfrentamento direto entre os dois, mas o grau de hostilidade não se aproximou ao do debate anterior do segundo turno. Não houve, por exemplo, nenhuma concessão de direito de resposta.
Mesmo nas respostas, a prefeita se esforçava por mostrar-se como uma pessoa humilde. Chamou de "amigo" um dos indecisos. Serra também fez questão de passar a imagem de um candidato propositivo, que não faz ataques. Agradeceu até a Marta ao final de sua fala, no quinto bloco.
A prefeita, em suas considerações finais, fez menção à discussão que teve com Chico Pinheiro no ano passado, ao vivo, e que foi levada ao ar pelo programa de Serra para mostrá-la como desequilibrada. "Você sabe que te liguei e pedi desculpas, porque você não tinha como saber que eu andava de colete à prova de balas", disse, dirigindo-se ao apresentador.

Bronca na platéia
Se Serra e Marta mantinham-se nos limites estabelecidos, seus convidados não. O apresentador Chico Pinheiro teve de chamar a atenção da platéia para que se ativesse às regras de não fazer nenhum tipo de manifestação.
"Não é PT nem PSDB. Somos adultos", repreendeu.
Os dois candidatos tentaram levar o debate para as questões que repisaram durante toda a campanha e não apareceu nenhum assunto novo, sem "pegadinhas" de ambos os lados. Foi, basicamente, uma discussão técnica.
Ainda no primeiro bloco, ao responder a uma questão sobre os problemas urbanos, Serra disse que "demora 120 dias para abrir uma empresa", a exemplo do que vem fazendo durante toda a campanha. Marta só respondeu blocos mais tarde, quando colocou a culpa pela demora no governo estadual. Falou que a parte da prefeitura ficava pronta em sete dias.
O vice de Serra, o ex-secretário de Pitta Gilberto Kassab, só apareceu de relance, mencionado, obviamente por Marta, ao final de uma resposta. No primeiro debate, quando a desvantagem da petista nas pesquisas era muito maior, o vice de Serra foi um dos principais alvos dos ataques.
O programa da Globo teve média de audiência de 37 pontos (cada ponto equivale a 49,5 mil domicílios na Grande SP), a maior de todos os debates realizados nesta eleição. Se todos os espectadores forem eleitores, dá um público estimado de 1,85 milhão de votos -mais que suficiente para consolidar a vitória ou a virada.


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