São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Lula não pressionou, diz Meirelles

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, negou ontem ter recebido pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ceder a lobby de Marcos Valério de Souza na instituição.
O empresário mineiro, um dos pivôs do escândalo do "mensalão", se encontrou com diretores do BC para tratar de assuntos de interesse do Banco Rural, em especial da liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, cuja massa falida o Rural tinha interesse em comprar. O processo foi vetado pelo BC.
"O que existe aí é uma crônica de um lobby malsucedido. Foi feita uma série de propostas legítimas por parte dos ex-controladores de levantar a liquidação de uma forma que eles julgavam adequada. O BC decidiu que aquilo não estava de acordo com os termos da lei e nem com o interesse público, portanto, disse não", afirmou Meirelles em Paris, onde participou ontem de um debate sobre reformas dos banco centrais latino-americanos.
Segundo a revista "Veja", Valério esteve 17 vezes na sedes do BC em Brasília e em São Paulo. O BC confirmou as visitas e que a maior parte delas foi para tratar da liquidação do Mercantil, mas que o pleito de Valério foi rejeitado.
Meirelles declarou que já sabia das investidas de Valério no BC -foi informado, diz, assim que estourou o "mensalão"-, mas que só anteontem teve ciência de que foram 17 visitas. "Ele pode ter falado várias vezes, e com diversos níveis do BC. O importante é: nunca falou comigo, e o pedido nunca foi aceito. Se houve tentativas, não foram bem-sucedidas."
Agora, Valério ameaça envolver Lula no lobby: caso não receba de volta parte do dinheiro que teria emprestado ao PT, poderá contar que o presidente teria tentado interceder a seu favor no caso da liquidação, mas teria esbarrado na independência mantida pelo BC.
Meirelles disse jamais ter conversado com Lula sobre liquidação de bancos e que nunca ouviu pedidos dele ou de Antonio Palocci para ajudar Valério. "Nunca recebi pressão do presidente da República nem do ministro da Fazenda. O que recebi sempre foi apoio para tomar as decisões que o BC sempre julgou adequadas em diversas áreas. Inclusive porque o presidente tem poder de me demitir. Se ele discordasse de qualquer coisa que tivéssemos feito, teria tomado providência."
Ele disse ainda que não considera excessivas 17 visitas: "Não, se considerar que é um representante de um banco com diversos assuntos sendo tratados com o BC. Se fizermos levantamento de outros bancos na mesma situação, possivelmente encontraremos visitas numerosas a funcionários de vários departamentos".


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