|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Ex-ministro, aos amigos, admite que será difícil fugir da cassação e planeja ir à praia, estudar nos EUA e abrir uma consultoria
Nos bastidores, Dirceu repensa carreira
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao subir a rampa do Palácio do
Planalto junto com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, José Dirceu (PT-SP) era um político pleno de ambições. Sonhava com o governo
de São Paulo e até com a Presidência da República. Hoje, tem
pretensões bem mais modestas.
Em público, o ex-chefe da Casa
Civil luta para salvar o próprio
mandato. Privadamente, já entregou os pontos. Está procurando
um meio de "ganhar a vida" depois que perder o título de deputado federal.
"Não preciso de muito", diz
Dirceu aos amigos. "Uns cinco ou
seis mil [reais] já resolveriam".
A primeira cogitação de Dirceu
foi a de arrumar emprego em um
escritório de advocacia. Porém,
embora seja formado pela PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, ele jamais exerceu o ofício.
O ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça), que é do ramo,
aconselhou-o a abrir o leque de alternativas. Disse que não seria difícil que o amigo arrumasse colocação numa banca de advogados.
Mas aconselhou-o a pensar também na hipótese de abrir um negócio próprio.
Esta segunda idéia é, por ora, a
que mais o anima. Pensa em abrir
um escritório de consultoria externa. Acha que a experiência que
adquiriu na administração pública o credencia para vender conselhos a investidores estrangeiros.
Dos colegas que deixou na Esplanada, o ministro Antonio Palocci é, depois de Thomaz Bastos,
o interlocutor mais freqüente de
Dirceu. Falam-se pelo telefone e
pessoalmente. A ambos o ex-ministro diz que, além de se colocar
profissionalmente, tentará manter algum tipo de militância política, mesmo sem mandato.
Logo depois da cassação, da
qual nem ele próprio mais duvida, Dirceu pretende isolar-se numa praia. "Estou moído. Preciso
descansar." Em seguida, começará a preparar sua mudança para
os Estados Unidos.
Dirceu recebeu e aceitou a oferta de uma bolsa de seis meses na
prestigiosa universidade de Harvard. Nesse período, quer estudar, aprender a língua inglesa, fazer contatos e proferir palestras,
pelas quais espera receber algum
dinheiro. Só depois, já de volta ao
Brasil, vai tomar a decisão final
em relação ao seu futuro profissional. A nenhum amigo Dirceu
mencionou a intenção de solicitar
à Câmara aposentadoria proporcional ao seu tempo de mandato
parlamentar. O que não significa
que não possa vir a pedir.
"Aparelho"
Antes, o ex-chefe da Casa Civil
espera resistir por mais algum
tempo no "aparelho". É assim,
com esse vocábulo que evoca os
locais de reunião da esquerda
clandestina sob a ditadura, que o
advogado de Dirceu, José Luiz de
Oliveira Lima, se refere ao escritório onde discutem as estratégias
jurídicas. Otimista, Oliveira Lima
acha que o "aparelho" está longe
de ser "derrubado".
Neste final de semana, o advogado Oliveira Lima estoca munição. Prepara dois novos recursos
que pretende protocolar no STF.
Num deles, pedirá de novo a extinção do processo contra Dirceu.
Noutro, tentará anular a reunião
que o Conselho de Ética planeja
realizar nesta segunda-feira.
Se o advogado fracassar, o "aparelho" de Dirceu será, finalmente,
estourado. Cassado, o ex-ministro amargará o seu segundo ciclo
de clandestinidade. No primeiro,
fugia da ditadura. Neste outro, será expulso da democracia. Só poderá voltar a concorrer a cargo
eletivo em 2014. Talvez seja tarde
demais para que Dirceu refaça o
seu futuro na política.
Josias de Souza escreve o blog "Josias de
Souza - Nos Bastidores do Poder" no endereço www.folha.com.br/blogs/
josiasdesouza
Texto Anterior: "Jeitinho brasileiro": Debate sobre corrupção chega a 19 propostas, mas não há consenso Próximo Texto: Petistas contradizem versão de deputado Índice
|