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TRANSIÇÃO
Futuro governo articula contra repasse de recursos federais para Minas
Itamar reage a manobra do PT e abre 1ª crise com Lula
Marcos Michelin/"Estado de Minas"
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O governador Itamar Franco (MG), em reunião ontem com o secretariado no Palácio da Liberdade |
LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A
AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O governador de Minas Gerais,
Itamar Franco (sem partido),
abriu ontem a primeira crise política grave na base aliada do governo eleito de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT). O motivo foi a objeção
do coordenador do lado petista
da equipe de transição, Antônio
Palocci Filho, à liberação de recursos federais que garantiriam o
pagamento do 13º salário aos servidores mineiros -que custará
R$ 550 milhões.
Em nota, Itamar afirma que o
PT o "trata como adversário"
após "o empenho que fizemos pela candidatura Lula".
O Estado aguardava para ontem
a edição de uma MP (medida provisória) determinando o repasse
de R$ 1,2 bilhão, referentes a gastos do governo mineiro em obras
de manutenção e reparo em rodovias federais de 1998 para cá.
Mas, na tarde de anteontem, Palocci disse ao ministro Pedro Malan (Fazenda) ser contra a MP
porque ela abriria precedente a
outros oito Estados com queixas
semelhantes, provocando uma
repasse estimado em R$ 9 bilhões.
Itamar divulgou uma primeira
nota na manhã de ontem. Após
criticar o presidente Fernando
Henrique Cardoso e o PT, pergunta: "O que nos resta perguntar
é quem é afinal, hoje, o presidente
da República: o ex-prefeito de Ribeirão Preto [Palocci] ou o professor Fernando Henrique?".
Ainda de manhã, Itamar reuniu-se com seu secretariado e
com a procuradora do Estado no
Palácio da Liberdade e decidiu
que entrará, na segunda, com
ações no Supremo Tribunal Federal para tentar forçar a liberação.
Logo depois, em um segundo
comunicado, o governador se disse exausto e afirmou que "Minas
reivindica o que tem direito".
Sabendo do impasse, o governador eleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), divulgou nota afirmando que esperava ainda ontem
a liberação dos recursos, "dentro
dos compromissos que foram assumidos com o governo de Minas". Aécio, na campanha, empenhou-se em costurar o acordo.
À tarde, após nova reunião com
secretários, desta vez no Palácio
das Mangabeiras, residência oficial do governo, Itamar divulgou
outra nota, dizendo que "gostem
ou não gostem" ele continuará a
defender os interesses de Minas.
"Nosso Estado apenas quer receber o que tem direito e isso foi
prometido pelo senhor presidente da República, na presença do
governador eleito, Aécio Neves,
quando disse que, nesta quarta-feira (27), baixaria uma medida
provisória nesse sentido, quando
esteve presente também o ministro da Casa Civil, Pedro Parente.
Por enquanto, é o que tenho a falar. Vamos aguardar os desdobramentos", diz o texto.
O porta-voz do Planalto, Alexandre Parola, afirmou que FHC
não se pronunciaria sobre a nota
de Itamar. A assessoria de imprensa da Casa Civil informou
que o ministro Pedro Parente
também não faria comentários.
As reivindicações com a União
começaram há dois anos. Há dois
meses, Itamar pediu a FHC a liberação dos créditos em uma reunião. O presidente formou um
grupo no Ministério dos Transportes para estudar o caso. O grupo, no mês seguinte, reconheceu
os créditos e encaminhou à AGU
(Advocacia Geral da União) o seu
relatório. A AGU aceitou os termos, e a equipe econômica começou a estudar a forma de pagar.
Itamar, Aécio e a equipe econômica se reuniram nas semanas seguintes. Só que manifestações de
outros Estados, como Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, pedido
isonomia na liberação, complicaram a negociação.
Uma hipótese alternativa à liberação desta verba é a indenização
de R$ 600 milhões que Minas alega ter perdido com o processo de
liquidação do banco estadual Minascaixa, em 1998. Com isso, não
seriam atendidos pleitos de outros Estados e a conta fecharia.
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