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TRANSIÇÃO
Situação do campo é "escandalosa", diz Graziano
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Dando mostras de que os petistas não pretendem se render ao
pacto de não-agressão proposto
ao PT pela cúpula do PSDB, José
Graziano da Silva, um dos principais assessores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem de forma contundente
a política de reforma agrária implantada pelo governo Fernando
Henrique Cardoso, rotulando-a
de "escandalosa".
Além de agressivo, Graziano foi
irônico. "Um diagnóstico preliminar que nós [a equipe de transição do PT] fizemos mostra um
quadro escandaloso nessa propensa maior reforma agrária do
mundo que foi feita nos últimos
anos", afirmou, durante palestra
no seminário "Reforma Agrária
-Um Instrumento de Desenvolvimento Social e Econômico".
Graziano disse que os assentamentos criados na era FHC, por
serem "precários", incentivaram
a fuga de trabalhadores rurais dos
lotes. "Muita gente abandonou
suas terras tamanha a precariedade desses assentamentos que foram considerados assentamentos. Eles [o governo] não poderiam chamar de assentamento."
Graziano foi aplaudido por uma
platéia formada por servidores do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), entre
outros movimentos sociais.
Da equipe de transição, na qual
coordena o projeto de combate à
fome, Graziano classificou como
"contraditórias" as informações
do governo federal em relação às
passadas ao PT pelos movimentos sociais, em especial o MST.
Um dos pontos polêmicos seria o
número de assentados no governo Fernando Henrique Cardoso.
No início de 2002, a Folha mostrou que os balanços da reforma
agrária do governo federal foram
inflados, para efeito de publicidade, com assentamentos que não
saíram do papel e sem infra-estrutura básica.
Outro lado
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento
Agrário, Orlando Muniz, integrante da equipe de transição do
governo federal, disse ontem que
não iria comentar as declarações
de Graziano. Afirmou que, até
agora, ninguém do PT havia
apontado as contradições citadas.
De acordo com Muniz, os técnicos da equipe de transição petista
têm participado de seguidas reuniões e exposições no ministério,
mas Graziano não participou de
nenhuma delas.
Questionado se Graziano foi
irônico ao dizer que FHC fez a
"propensa maior reforma agrário
do mundo", o secretário-executivo do ministério disse: "Não quero entrar no mérito das declarações. Prefiro não dizer se ele está
certo ou errado. Ele deve ter as
fontes dele para ter dito isso."
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