São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Situação do campo é "escandalosa", diz Graziano

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Dando mostras de que os petistas não pretendem se render ao pacto de não-agressão proposto ao PT pela cúpula do PSDB, José Graziano da Silva, um dos principais assessores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem de forma contundente a política de reforma agrária implantada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, rotulando-a de "escandalosa".
Além de agressivo, Graziano foi irônico. "Um diagnóstico preliminar que nós [a equipe de transição do PT] fizemos mostra um quadro escandaloso nessa propensa maior reforma agrária do mundo que foi feita nos últimos anos", afirmou, durante palestra no seminário "Reforma Agrária -Um Instrumento de Desenvolvimento Social e Econômico".
Graziano disse que os assentamentos criados na era FHC, por serem "precários", incentivaram a fuga de trabalhadores rurais dos lotes. "Muita gente abandonou suas terras tamanha a precariedade desses assentamentos que foram considerados assentamentos. Eles [o governo] não poderiam chamar de assentamento."
Graziano foi aplaudido por uma platéia formada por servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), entre outros movimentos sociais.
Da equipe de transição, na qual coordena o projeto de combate à fome, Graziano classificou como "contraditórias" as informações do governo federal em relação às passadas ao PT pelos movimentos sociais, em especial o MST. Um dos pontos polêmicos seria o número de assentados no governo Fernando Henrique Cardoso.
No início de 2002, a Folha mostrou que os balanços da reforma agrária do governo federal foram inflados, para efeito de publicidade, com assentamentos que não saíram do papel e sem infra-estrutura básica.

Outro lado
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Orlando Muniz, integrante da equipe de transição do governo federal, disse ontem que não iria comentar as declarações de Graziano. Afirmou que, até agora, ninguém do PT havia apontado as contradições citadas.
De acordo com Muniz, os técnicos da equipe de transição petista têm participado de seguidas reuniões e exposições no ministério, mas Graziano não participou de nenhuma delas.
Questionado se Graziano foi irônico ao dizer que FHC fez a "propensa maior reforma agrário do mundo", o secretário-executivo do ministério disse: "Não quero entrar no mérito das declarações. Prefiro não dizer se ele está certo ou errado. Ele deve ter as fontes dele para ter dito isso."


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