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Em almoço oferecido a ministros, presidente dedilha notas ao piano
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos limites do Palácio da Alvorada, o prestígio do presidente
Fernando Henrique Cardoso resiste ao desgaste do final de um
mandato de oito anos: adolos permearam o último almoço de FHC
com os ministros e líderes do governo no Congresso.
O presidente serviu aos convivas risoto de camarão e pato com
legumes. Na carta de bebidas, não
faltaram vinho tinto e champanhe. A sobremesa foi de framboesa. Típico das confraternizações
da turma do escritório no final de
ano. Até na música.
FHC abriu o piano e dedilhou
algumas notas por não mais de 30
segundos. Foi substituído na banqueta por Pratini de Moraes
(Agricultura). Estimulado pela
platéia, o ministro atacou um pot-pourri de músicas gaúchas:
"Prenda minha", "Pezinho" e
"China minha".
Aplaudido, agradeceu, modesto: "Foi assim que eu comecei ganhando a vida".
O cortejo de mesuras teve início
quando tomou a palavra o ministro Pedro Parente (Casa Civil), escolhido para falar em nome dos
colegas de governo:
"Um homem desse tamanho,
não há elogio que alcance", derramou-se Parente, ao dizer que servir com FHC fora um "aprendizado", uma "honra".
O calor era forte no Alvorada.
FHC disse para os ministros tirarem o paletó. Ninguém tirou. Todos se lembraram de uma ocasião
anterior na qual o presidente fizera o mesmo pedido, alguns atenderam, mas o anfitrião ficou de
paletó, para o constrangimento
geral. É contra os usos e costumes
da corte palaciana.
FHC tomou a iniciativa, alguns
minutos depois, para alívio dos
subordinados, que logo trataram
de se desfazer da principal peça da
indumentária do paço.
Discurso
O presidente fez um discurso rápido, mas também não economizou reverências ao vice-presidente Marco Maciel, a quem ergueu
um brinde de champanhe: "Igual
pode ter [um vice como Marco
Maciel], mas melhor é impossível!"
O líder do governo no Senado,
Romero Jucá (PSDB-RR), deixou-se enlevar pelo clima e derramou elogios arrebatados a FHC:
"Está entregando para o Lula [o
presidente eleito Luiz Inácio Lula
da Silva] um país muito melhor
do que recebeu até nas pequenas
coisas. Ele já vai pegar a cozinha
do Alvorada arrumada".
Antes das despedidas, FHC autografou o livro "Brasil 1994-2002
- A Era do Real", um calhamaço
de autopropaganda governamental. O secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, correu para pegar um lugar na fila: "Eu li toda a sua obra.
Também quero um autógrafo".
Por fim, Fernando Henrique
juntou-se aos ministros para uma
foto. "Cadê o paulistério?", brincou, referindo-se às críticas que
recebeu no início do governo, segundo as quais montara um governo de paulistas. De São Paulo,
no ministério da última foto, há
apenas José Abrão (Desenvolvimento Agrário), Caio Carvalho
(Esporte e Turismo) e Francisco
Weffort (Cultura).
Colaborou RAQUEL ULHÔA, da Sucursal
de Brasília
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