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País não atrai dinheiro, diz tucano
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em debate sobre a economia
brasileira em 2005, ontem à tarde,
Fernando Henrique Cardoso afirmou que o Brasil, sob o governo
Luiz Inácio Lula da Silva, está
"resvalando" na capacidade de
atrair capitais externos para investimentos -e disse não acreditar que o crescimento econômico
que o país experimenta agora seja
de um novo tipo, como quer o governo, sustentado e duradouro.
"Nossa capacidade de atrair investimentos diminuiu", disse Fernando Henrique em São Paulo,
no debate "O que esperar de
2005", ao lado dos economistas
José Júlio Senna e Antônio Barros
de Castro. "Eu tenho muito temor
de nós perdermos mais uma vez o
bonde da história."
Contrariamente à crença governamental de crescimento de longo prazo, menos exposto a crises
internacionais, o sociólogo afirmou que "o Brasil vai crescer sim,
com alguns graus de candomblé".
O "candomblé" de FHC -que
também se disse "cartesiano, com
alguns graus de candomblé"-,
contraponto à racionalidade econômica, são as incertezas internas
e externas que podem ameaçar o
crescimento da economia sob o
presidente Lula.
"Não existe moto-contínuo" no
sistema capitalista, disse. "Sou gato escaldado. Já assisti a isso muitas vezes -na vida e no meu governo", disse o sociólogo, referindo-se a reveses nos momentos de
retomada da economia.
FHC declarou que o país -com
um Estado "engessado", que tem
capacidade mínima de conduzir
investimentos- "tem que ter
atração de capital". As PPPs (Parcerias Público-Privadas), solução
aventada pelo governo, foram
descartadas pelo político: "Não
vai ser o "abre-te, Sésamo". Porque
não tem dinheiro público".
Segundo FHC, há uma agenda
de reformas microeconômicas a
avançar -"tem que ter liderança
política"- e o governo, sem capacidade de investir, precisa dar
maiores garantias institucionais
de confiabilidade para poder
atrair os investimentos. "Isso depende de uma ação conseqüente,
coerente e contínua do governo. E
nessa matéria nós estamos ainda
resvalando. Porque não se sabe
muito bem se agência reguladora
vai funcionar ou não vai, qual vai
ser o grau de interferência do ministro, até que ponto se aceita ou
não se aceita esse tipo de idéias.
Ora, como vai se obter, na proporção necessária, o investimento
para o Brasil continuar crescendo
se essas questões institucionais
não ficarem mais claras?"
Também a falta de "estrutura
partidária" seria um problema
para a continuidade das políticas.
"Não existem partidos", disse o
ex-presidente. "Muita gente troca
de partido para se adaptar aos donos do poder."
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