São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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País não atrai dinheiro, diz tucano

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em debate sobre a economia brasileira em 2005, ontem à tarde, Fernando Henrique Cardoso afirmou que o Brasil, sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva, está "resvalando" na capacidade de atrair capitais externos para investimentos -e disse não acreditar que o crescimento econômico que o país experimenta agora seja de um novo tipo, como quer o governo, sustentado e duradouro.
"Nossa capacidade de atrair investimentos diminuiu", disse Fernando Henrique em São Paulo, no debate "O que esperar de 2005", ao lado dos economistas José Júlio Senna e Antônio Barros de Castro. "Eu tenho muito temor de nós perdermos mais uma vez o bonde da história."
Contrariamente à crença governamental de crescimento de longo prazo, menos exposto a crises internacionais, o sociólogo afirmou que "o Brasil vai crescer sim, com alguns graus de candomblé".
O "candomblé" de FHC -que também se disse "cartesiano, com alguns graus de candomblé"-, contraponto à racionalidade econômica, são as incertezas internas e externas que podem ameaçar o crescimento da economia sob o presidente Lula.
"Não existe moto-contínuo" no sistema capitalista, disse. "Sou gato escaldado. Já assisti a isso muitas vezes -na vida e no meu governo", disse o sociólogo, referindo-se a reveses nos momentos de retomada da economia.
FHC declarou que o país -com um Estado "engessado", que tem capacidade mínima de conduzir investimentos- "tem que ter atração de capital". As PPPs (Parcerias Público-Privadas), solução aventada pelo governo, foram descartadas pelo político: "Não vai ser o "abre-te, Sésamo". Porque não tem dinheiro público".
Segundo FHC, há uma agenda de reformas microeconômicas a avançar -"tem que ter liderança política"- e o governo, sem capacidade de investir, precisa dar maiores garantias institucionais de confiabilidade para poder atrair os investimentos. "Isso depende de uma ação conseqüente, coerente e contínua do governo. E nessa matéria nós estamos ainda resvalando. Porque não se sabe muito bem se agência reguladora vai funcionar ou não vai, qual vai ser o grau de interferência do ministro, até que ponto se aceita ou não se aceita esse tipo de idéias. Ora, como vai se obter, na proporção necessária, o investimento para o Brasil continuar crescendo se essas questões institucionais não ficarem mais claras?"
Também a falta de "estrutura partidária" seria um problema para a continuidade das políticas. "Não existem partidos", disse o ex-presidente. "Muita gente troca de partido para se adaptar aos donos do poder."


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