São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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NA SITUAÇÃO

Ministro afirma que está "muito bem e feliz" na Casa Civil e que não cogita assumir a presidência do Legislativo

Dirceu diz que está bem no cargo e nega interesse pela Câmara

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro José Dirceu, da Casa Civil, disse ontem, em São Paulo, que está "muito bem e feliz" no governo, exercendo a função que lhe foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva -cuidar da parte gerencial do governo, e não da coordenação política, cuja incumbência está a cargo do ministro Aldo Rebelo.
Dirceu, que compareceu a um almoço promovido pela ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), afirmou que deve permanecer no governo, apesar de especulações que o apontam como o substituto de João Paulo Cunha (PT-SP) na presidência da Câmara.
"Não quero voltar para a Câmara nem quero ser articulador político do governo, muito menos ser presidente da Câmara", afirmou. "Quero ficar onde estou." Há cerca de dez dias, Lula e Dirceu tiveram uma conversa, no Palácio do Planalto, na qual o presidente teria dito que não quer ver Dirceu atuando na coordenação política.
Em discurso para empresários, o ministro enumerou os avanços obtidos pelo país no atual governo, como a redução do desemprego e o aumento da produção industrial. Questionado por um dos presentes sobre a promessa do então candidato Lula de criar 10 milhões de empregos, Dirceu foi contraditório. Primeiro, disse que para atingir essa meta, seria necessário "medir os empregos informais criados".
Depois, negou que Lula tivesse feito essa promessa durante a campanha. "O presidente, a rigor, se olharmos os "tapes" da época, não prometeu criar 10 milhões de empregos. Ele disse que a necessidade do país era criar 10 milhões de empregos em quatro anos."
A platéia, então, reagiu ruidosamente. "Mas vamos aceitar o desafio. O empresariado e o governo têm de aceitar esse desafio porque, se o país não consegue criar 10 milhões de empregos em quatro anos, o que será do futuro do país?" Neste ano foi criado mais de 1,7 milhão de empregos com carteira assinada.
Dirceu disse que acredita num crescimento superior a 4% também nos próximos anos, "mas dentro das possibilidades do país". "Não podemos fazer política irresponsável."
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, que participou do almoço, cobrou mudanças. "Ou muda a política econômica ou não teremos no ano que vem o crescimento que teremos neste ano", afirmou.
Para Dirceu, "a política de desenvolvimento não é só a política fiscal, não é só a política de juros". Dirceu disse que "o Brasil não é um país que tem um governo que só tem política econômica no sentido monetário e fiscal, que é determinante, porque sem estabilidade o país não cresceria. Mas temos outras políticas que viabilizam o crescimento do país".

Disputa
Provocado por um empresário, que o questionou sobre a disputa entre ele e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Dirceu admitiu que há divergências entre ambos, "e elas são decididas pelo presidente da República". O ministro da Casa Civil também frisou que trabalha "há décadas" com Palocci e não acredita que "por causa da diferença de avaliação de determinados momentos da política econômica vamos nos desentender em relação ao governo e àquilo que é essencial: manter a unidade do governo".
Ao falar sobre a mudança no comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com a troca de Carlos Lessa por Guido Mantega, Dirceu disse que o comando do banco "está em boas mãos". E explicou: "Quando digo que está em boas mãos é que começaram a fazer comentários que o ministro Mantega seria menos ou mais nacionalista, menos ou mais progressista. Ele é um desenvolvimentista como somos todos, inclusive o ministro Palocci".
Na reunião entre ministros do PT e o presidente Lula, na semana passada, Palocci foi muito criticado pela condução da política econômica, que, segundo os petistas, estaria impedindo um crescimento maior do país.
Sobre a taxa de juros -atualmente em 17,25% ao ano-, Dirceu foi questionado sobre o discurso do PT, e do então candidato Lula, que dizia, antes de assumir o governo, que a queda na taxa era questão de vontade política. Ontem, Dirceu assentiu que "a taxa de juros não depende [apenas] de vontade política".


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