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BC SOB PRESSÃO
João Paulo Cunha sugere que status de ministro para presidente do Banco Central seja criado na Constituição
MP que blinda Meirelles pode ser provisória
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma das ações mais polêmicas
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva, a medida provisória que
concedeu status de ministro ao
presidente do Banco Central deve
ir a voto hoje na Câmara dos Deputados. Pela manhã, Henrique
Meirelles, o atual ocupante do
cargo, vai ao Congresso pela primeira vez após a divulgação de
supostas irregularidades fiscais
que ele teria cometido.
A liderança do governo na Câmara dos Deputados diz que tem
votos para aprovar a medida, apesar de vários complicadores: a
oposição é contra, vários deputados governistas também; além
disso, o PMDB ainda está reticente em voltar a apoiar o governo.
Para a aprovação, é necessário o
voto da maioria dos presentes,
respeitado o quórum mínimo de
257 dos 513 deputados.
O presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP),
afirmou que, como forma de superar impasses, pode haver acordo para que o status seja dado
provisoriamente, até que uma
emenda à Constituição inclua o
presidente do Banco Central no
rol dos ministros de Estado.
"O presidente do BC precisa ter
o foro privilegiado. Não pode ficar vulnerável do jeito que nosso
sistema permite hoje. Ministros
que comandam pastas menos importantes têm foro privilegiado",
argumentou João Paulo.
Ele, no entanto, afirmou que a
alteração no status do presidente
da instituição não deveria ter sido
feita por meio de uma medida
provisória: "Seria mais adequado
fazer via emenda à Constituição.
Agora a MP está aqui, poderemos
fazer um acordo para aprová-la e
colocar uma validade até a mudança da Constituição, que revogaria essa lei. É uma alternativa".
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) também partiu para a defesa de Henrique Meirelles como
ministro. Para ele, é um "erro gravo" a Constituição brasileira não
dar status de ministro de Estado
ao presidente do Banco Central.
"A maneira de corrigir isso é
aprovar uma emenda constitucional ou por meio de medida
provisória", afirmou Dirceu ontem, em São Paulo. "Não é crime,
num país com os problemas que
temos, o presidente do BC ter [foro especial]. Podemos ser contra o
foro, mas essa é outra questão."
Oposição
PFL e PSDB dizem que vão tentar derrubar a medida. Os dois
partidos entraram no STF (Supremo Tribunal Federal) com ações
de inconstitucionalidade contra a
MP. Os processos resultaram em
um parecer do Ministério Público
Federal classificando a concessão
do foro de "casuística" e "inconstitucional".
"É fato notório que a transformação do cargo visa, em primeira
linha, à concessão de prerrogativa
de foro, para que [Meirelles] seja
julgado pela instância máxima da
organização judiciária brasileira,
o STF, justamente num momento
em que está sob investigação do
Ministério Público Federal a respeito de sua regularidade fiscal e
eleitoral", afirmou o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, num parecer enviado ao
STF no começo do mês. O Supremo não julgou ainda a questão.
Fonteles se encontrou ontem
com João Paulo, mas disse não ter
tratado da medida. Questionado
sobre seu parecer, manteve sua
posição, de que a medida é "inconstitucional e casuística". Também foi contra a alteração que dê
caráter provisório ao status.
A medida foi editada em agosto,
quando repercutiam notícias sobre suposta sonegação fiscal e
evasão de divisas. Meirelles, que
nega as acusações, vai hoje ao
Congresso falar na Comissão
Mista de Orçamento.
Colaborou a Reportagem Local
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