São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC SOB PRESSÃO

João Paulo Cunha sugere que status de ministro para presidente do Banco Central seja criado na Constituição

MP que blinda Meirelles pode ser provisória

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma das ações mais polêmicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a medida provisória que concedeu status de ministro ao presidente do Banco Central deve ir a voto hoje na Câmara dos Deputados. Pela manhã, Henrique Meirelles, o atual ocupante do cargo, vai ao Congresso pela primeira vez após a divulgação de supostas irregularidades fiscais que ele teria cometido.
A liderança do governo na Câmara dos Deputados diz que tem votos para aprovar a medida, apesar de vários complicadores: a oposição é contra, vários deputados governistas também; além disso, o PMDB ainda está reticente em voltar a apoiar o governo.
Para a aprovação, é necessário o voto da maioria dos presentes, respeitado o quórum mínimo de 257 dos 513 deputados.
O presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), afirmou que, como forma de superar impasses, pode haver acordo para que o status seja dado provisoriamente, até que uma emenda à Constituição inclua o presidente do Banco Central no rol dos ministros de Estado.
"O presidente do BC precisa ter o foro privilegiado. Não pode ficar vulnerável do jeito que nosso sistema permite hoje. Ministros que comandam pastas menos importantes têm foro privilegiado", argumentou João Paulo.
Ele, no entanto, afirmou que a alteração no status do presidente da instituição não deveria ter sido feita por meio de uma medida provisória: "Seria mais adequado fazer via emenda à Constituição. Agora a MP está aqui, poderemos fazer um acordo para aprová-la e colocar uma validade até a mudança da Constituição, que revogaria essa lei. É uma alternativa".
O ministro José Dirceu (Casa Civil) também partiu para a defesa de Henrique Meirelles como ministro. Para ele, é um "erro gravo" a Constituição brasileira não dar status de ministro de Estado ao presidente do Banco Central.
"A maneira de corrigir isso é aprovar uma emenda constitucional ou por meio de medida provisória", afirmou Dirceu ontem, em São Paulo. "Não é crime, num país com os problemas que temos, o presidente do BC ter [foro especial]. Podemos ser contra o foro, mas essa é outra questão."

Oposição
PFL e PSDB dizem que vão tentar derrubar a medida. Os dois partidos entraram no STF (Supremo Tribunal Federal) com ações de inconstitucionalidade contra a MP. Os processos resultaram em um parecer do Ministério Público Federal classificando a concessão do foro de "casuística" e "inconstitucional".
"É fato notório que a transformação do cargo visa, em primeira linha, à concessão de prerrogativa de foro, para que [Meirelles] seja julgado pela instância máxima da organização judiciária brasileira, o STF, justamente num momento em que está sob investigação do Ministério Público Federal a respeito de sua regularidade fiscal e eleitoral", afirmou o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, num parecer enviado ao STF no começo do mês. O Supremo não julgou ainda a questão.
Fonteles se encontrou ontem com João Paulo, mas disse não ter tratado da medida. Questionado sobre seu parecer, manteve sua posição, de que a medida é "inconstitucional e casuística". Também foi contra a alteração que dê caráter provisório ao status.
A medida foi editada em agosto, quando repercutiam notícias sobre suposta sonegação fiscal e evasão de divisas. Meirelles, que nega as acusações, vai hoje ao Congresso falar na Comissão Mista de Orçamento.


Colaborou a Reportagem Local


Texto Anterior: CPI da Loterj: Comissão pede processo contra Calazans no Rio
Próximo Texto: Inteligência: Abin pretende formar espiões nos moldes da CIA
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.