São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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INTELIGÊNCIA

Abin pretende formar espiões nos moldes da CIA

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os arapongas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) deixaram de lado a discrição no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Programaram para sábado um "jantar-show" com Jorge Ben Jor, querem ter aulas em faculdades norte-americanas, elaboram hino e bandeira e pretendem conceder um "diploma amigo da Abin" para personalidades que tenham auxiliado suas atividades.
A Abin pediu formalmente à CIA (a agência de inteligência dos Estados Unidos) informações para a criação da Academia Nacional de Inteligência no Brasil. Também estão previstos cursos de agentes brasileiros na JMIC (Joint Military Intelligence College), uma faculdade especializada em inteligência nos EUA.
As informações constam do jornal dos cem dias da gestão de Mauro Marcelo de Lima e Silva no órgão, enviado ontem a jornalistas e parlamentares federais. Foram impressos 5.000 exemplares. Segundo a agência, o custo, cujo valor não foi divulgado, foi pago por Lima e Silva, por meio de um cheque pessoal.
O "jantar-show" com Jorge Ben Jor e a banda do Zé Pretinho será pago, segundo a Abin, pela associação de funcionários da agência. A Folha apurou que todos os ministros foram convidados, mas a maioria recusou. Lula ainda não deu resposta ao convite.
O show vai ocorrer no estacionamento da agência, em Brasília. O convite pede que os participantes usem traje azul ou branco -as cores da agência. "O que você acha de desfrutar as delícias de um jantar tropical e divertir-se em um show?", diz.
Apesar da festa, a Abin passa por crise financeira e de pessoal. Os concursos para o órgão possuem alto grau de evasão, devido aos baixos salários. Ao tomar posse, Lima e Silva conseguiu uma pequena trégua abrindo canais de diálogo com servidores e instituindo grupos de trabalho para estudar os problemas.
A função da Abin é subsidiar a Presidência da República com informações estratégicas para melhor tomada de decisões. O órgão foi criado para substituir o SNI (Serviço Nacional de Informações), que promoveu espionagem e perseguição política durante a ditadura militar (1964-1985).

Exterior
"A implementação de mudanças na agência deve ser orientada em três eixos estratégicos: maior presença da Abin no interior do país, sobretudo na Amazônia e na linha de fronteira; maior participação no exterior, com prioridade para América do Sul e África meridional; e reformulação da estrutura organizacional", diz trecho do editorial de Lima e Silva na publicação da agência.
Segundo o jornal, "está sendo implementado processo para a instalação de novos postos da Abin no exterior". A Abin possui escritórios hoje na Argentina e nos EUA. De acordo com o jornal, serão abertos novos postos no Paraguai e na Colômbia. A pedido do presidente Lula, a Abin também estuda a instalação de um escritório na China.


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