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IMPRENSA
Bruno Acioly quer ter acesso a dados telefônicos de quatro jornalistas, "flexibilizando" proteção garantida em lei
Procurador tenta contestar sigilo de fonte
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A intenção do procurador do
Ministério Público Federal em
Brasília Bruno Acioly de quebrar
o sigilo telefônico de quatro jornalistas e, com isso, ter acesso às
suas fontes de informações foi o
tema do dia ontem na rede interna de comunicação do órgão.
Os procuradores queriam chegar ao responsável pela divulgação dos e-mails em que Acioly pede a ajuda de colegas para reunir
subsídios jurídicos para flexibilizar a garantia constitucional e legal dada ao sigilo de fonte.
O pedido de Acioly foi noticiado
ontem pelo jornal "O Estado de
S.Paulo". Na troca de e-mails, os
procuradores alertam para o "fogo amigo" entre os colegas e sugerem até um pedido de esclarecimentos ao jornal.
Em e-mail do dia 22 de novembro, Acioly lançou sua demanda
na rede. "Resumindo: a questão
nevrálgica é saber se podemos ou
não quebrar o sigilo telefônico do
jornalista quando este se recusa a
revelar seu informante, sob o fundamento do sigilo de fonte. Este
sigilo é ou não é relativo?"
No mesmo dia, em um outra
mensagem eletrônica, o procurador deu aos colegas mais detalhes
sobre os motivos para reiterar o
pedido de quebra de sigilo, já
apresentado anteriormente à Justiça, mas que fora negado.
Disse Acioly: "No caso vertente,
o que acontecia era o seguinte: informações privilegiadas do governo vazavam para o mercado financeiro através de "insiders" [informantes] do Bacen [Banco Central], conforme matérias publicadas por uma revista semanal, fundada em informações em documentos repassados por um banqueiro que conhecia as engrenagens do "esquema'".
No e-mail, ele diz ter fortes razões para crer que a fonte da revista era também parte da suposta
organização criminosa que ganhava dinheiro no mercado financeiro com o vazamento de informações do BC. Accioly pretendia, com o acesso ao extrato de
chamadas dos jornalistas, chegar
à pessoa que os teria alimentado
com informações. Ontem, ele não
quis revelar os nomes dos jornalistas. Alegou sigilo de Justiça.
Acioly disse que analisa a divulgação de seus e-mails pelo lado
positivo, que seria levar à grande
imprensa e à sociedade uma questão tão relevante como o sigilo de
fonte. "Fizemos um pedido [à Justiça] nesse sentido, que foi indeferido. Qualquer passo para abrir
sigilo de fonte deve ser muito bem
pensado. Fico feliz que a imprensa esteja discutindo isso", disse.
"Minha intenção é trabalhar pela consolidação deste sigilo, não
para fragilizá-lo. É fundamental
para a imprensa e para a sociedade. Não existe democracia sem sigilo de fonte", disse Accioly, que
diz ter até "7 ou 8" de dezembro
como prazo para apresentar um
mandado de segurança visando a
quebra do sigilo dos jornalistas.
O procurador disse ter lançado
mão desta estratégia porque seria
um último expediente para avançar em um caso "de muitos anos".
Ele confirmou se tratar de uma
investigação iniciada em 99. Naquele ano, a revista "Veja" tornou
público o socorro do BC aos bancos Marka e FonteCindam, que
quebraram devido à desvalorização cambial. A operação de salvamento, feita com dinheiro público, custou R$ 1,5 bilhão.
Integrante do grupo de procuradores que investigou o caso na
ocasião, Acioly pediu -e teve negada- a quebra de sigilo telefônico do repórter Policarpo Júnior,
responsável por reportagens sobre o caso Marka-FonteCindam
publicadas pela "Veja".
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