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Dantas lavou dinheiro no porto de Santos, acusa PF
Para polícia, banqueiro comprou debêntures da Santos Brasil com recursos do exterior
Dantas arrematou o maior
terminal de contêineres da
América do Sul num leilão
de privatização em 1997, na
gestão FHC, por US$ 250 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O banqueiro Daniel Dantas
usou uma empresa dele que
opera o terminal de contêineres do porto de Santos (SP),
chamada Santos Brasil S/A, para lavar dinheiro que tinha fora
do país, segundo documentos
apreendidos pela Polícia Federal. Os papéis indicam que o
próprio Dantas comprou debêntures da Santos Brasil com
recursos que tinha no exterior.
Para as autoridades brasileiras, parece que a compra foi feita por investidores estrangeiros, já que foram usados intermediários para esconder o real
proprietário dos recursos, ainda de acordo com a polícia.
A PF acusa o banqueiro de ter
lavado dinheiro de quatro maneiras pelo menos: com gado,
mineração, empreendimentos
imobiliários e comprando debêntures da Santos Brasil.
Dantas arrematou o terminal
de contêineres num leilão de
privatização em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Pagou o equivalente a
US$ 250 milhões para explorar
o maior terminal de contêineres da América do Sul.
O grupo Opportunity usou
dois intermediários para trazer
dinheiro sem origem que tinha
fora do Brasil, segundo o relatório parcial da Operação Satiagraha. Num dos casos, o banqueiro pagou US$ 30 mil para
usar uma "offshore" de Roberto Amaral, aparentemente o
ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez que ajudou
Dantas a ampliar seus contatos
no mundo político.
No outro esquema, o dinheiro sai das Ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe onde Dantas
opera um fundo de investimentos, e passa por fundos do banco UBS em Delaware, um paraíso fiscal dentro dos Estados
Unidos. De Delaware, o UBS remete o dinheiro para um fundo
brasileiro como se fossem recursos de investidores estrangeiros. Com o dinheiro do próprio Dantas, o fundo compra
debêntures da Santos Brasil,
segundo a interpretação da PF.
O esquema usado por Dantas
é similar ao que o ex-prefeito
Paulo Maluf empregou para
comprar debêntures da Eucatex, segundo interpretação de
policiais e procuradores que investigam o banqueiro.
Em 1997, três fundos administrados pelo Deutsche Bank
compraram US$ 92 milhões
em debêntures da Eucatex. O
Ministério Público Federal diz
que as debêntures foram compradas com dinheiro desviado
de obras da Prefeitura de São
Paulo. Maluf sempre negou que
tenha contas fora do Brasil e
que desviou recursos da prefeitura, segundo sua assessoria.
No caso de Dantas, a polícia
ainda não apurou o montante
em debêntures que ele teria
comprado usando intermediários. A Comissão de Valores
Mobiliários registra em seu site
que a Santos Brasil S/A emitiu
R$ 110 milhões em debêntures
em dezembro de 1997.
Descrição da operação
A PF não tem provas materiais da suposta operação de
compra de debêntures. O que
os policiais encontraram são
quatro documentos que descrevem o esquema. Um deles é
uma folha de papel com o logotipo do Opportunity, datada de
14 de abril de 2005. Nela, sob o
título "Santos Brasil", aparecem os nomes de Roberto Amaral e de consultores financeiros
e os documentos necessários
para a emissão das debêntures.
O documento sobre a aparente operação feita em fundos
administrados pelo UBS é mais
detalhado. Ele explica como os
fundos das Ilhas Cayman serão
transferidos para os EUA e depois remetidos para o Brasil.
Uma das observações explica
a razão da escolha de um fundo
nos EUA para a compra: "Perante o Bacen [Banco Central]/Brasil o comprador das
debêntures é um fundo do UBS
Master nos EUA (que é mais
confiável do que Cayman)". As
ilhas Cayman são consideradas
suspeitas pelos que combatem
a lavagem de dinheiro porque é
possível transferir fundos para
os bancos de lá sem precisar
dar muitas explicações sobre a
origem dos recursos.
A operação de compra das
debêntures foi montada por
William Yu, sócio da Aquarius
Consultoria Financeira, segundo papéis apreendidos pela PF.
Um dos documentos é uma carta de Yu na qual ele cobra
US$ 55.016,79 de Arthur Carvalho, diretor do Opportunity.
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