São Paulo, sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Em entrevista gravada no Planalto ao "Fantástico", presidente afirmou que saber do "valerioduto" foi como receber um golpe

Denúncias são "facada nas costas", diz Lula

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em entrevista gravada ontem para o programa "Fantástico", da Rede Globo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que recebeu como uma "facada nas costas" as denúncias sobre o esquema montado pelo PT com o empresário Marcos Valério.
A afirmação do presidente ocorreu no momento em que mais uma vez ele se recusou a citar nominalmente seus alegados traidores. Logo após a atual crise ter vindo à tona, em maio deste ano, Lula fez um pronunciamento a ministros no qual se disse "traído" por práticas que afirma não ter tido conhecimento prévio.
"Não interessa se [o presidente] foi [traído] por A, B ou C. Todo o episódio foi como uma facada nas minhas costas", declarou Lula ontem, em um trecho da entrevista de 37 minutos gravada no Planalto e que irá ao ar no domingo.
A expressão "facada nas costas" já havia sido atribuída a Lula pelo deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que revelou o esquema do "mensalão". Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o petebista disse que, ao ser informado por ele sobre o esquema, no início de 2005, Lula reagiu como se tivesse levado uma facada nas costas.
Ontem, de um caminhão de transmissão da TV Globo estacionado ao lado de uma das entradas do palácio, a reportagem conseguiu acompanhar ao vivo cerca de 3 dos 37 minutos da entrevista, até que um produtor percebeu a presença dos jornalistas e, com um anúncio de "acabou a festa", trancou as portas do veículo.
No trecho da entrevista que a Folha conseguiu acompanhar, Lula adotou um tom menos enfático ao defender o deputado cassado José Dirceu (PT-SP). Ontem, o presidente demonstrou irritação quando o jornalista Pedro Bial pediu a ele que comentasse a declaração de que levaria Dirceu ao seu palanque em 2006. "Eu não disse. Eu fui perguntado se o levaria para o palanque", afirmou. Em entrevista a rádios no início deste mês, Lula disse que "levaria o José Dirceu para o palanque, até porque ele foi cassado e não foi provado nada contra ele".
Na entrevista, o presidente também voltou a criticar a imprensa: "As coisas boas realizadas pelo governo não aparecem".

Velório
Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia, foram ontem ao velório do ex-motorista do PT Antonio Jorge Ferreira da Costa, 54, que morreu em Brasília, vítima de câncer. Costa trabalhou para o presidente quando ele foi deputado federal constituinte (1987-1991). Depois, o motorista convidou Lula para ser padrinho de seu filho Nicolas, 14. Ontem, no cemitério Campo da Esperança, Lula e Marisa se emocionaram.


Texto Anterior: Brasil perdoa US$ 84,7 mi da dívida da Nigéria para ampliar negócios
Próximo Texto: Saiba mais: Presidente só deu uma entrevista coletiva no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.