São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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QUATRO ANOS DE LULA

No Brasil de Lula a mudança foi de Lula

JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA

ENTRE AS POSSÍVEIS maneiras de caracterizar o primeiro governo Lula, uma dá o sentido de todas: é o exótico caso do governo que encheu de decepção os mais esperançosos eleitores da história nacional e, no mesmo compasso, agraciou com as melhores surpresas, inclusive materiais, a nata econômica e social que até então mantivera Lula no pelourinho político. Nada do que Luiz Inácio Lula da Silva disse ou fez, desde a projeção como líder sindical até o dia seguinte ao discurso de posse, combina com o seu governo. De um modo ou de outro, em menor ou em maior grau, os governos em geral refletem o governante. O Brasil que inventou uma capital em menos de um mandato, hidrelétricas imensas, estradas infindáveis, cultura efervescente, era espelho do Juscelino de otimismo audacioso, determinado, alheio a ônus futuros, "Nonô Pé-de-Valsa", sorriso farto no rosto, passadas confiantes. Juscelino não é exemplificação extrema, é apenas mais fácil. Extremo é Lula, que foge à regra. Como seu governo fugiu ao esperado. Ou a si mesmo. Ou ao próprio Lula. A fisionomia do primeiro governo Lula, amarfanhada, contraditória, com partes inertes e outras implantadas, resulta do mau convívio entre três Lulas, que antes de sua chegada ao poder não se imaginaria serem senão um, como convém aos criadores de governos coerentes, lúcidos e profícuos -os bons governos. O Lula como pessoa, o Lula político e o Lula como presidente são incapazes de explicar, cada um por si, o primeiro governo seu. Neles, porém, encontram-se as matrizes que moldaram as frustrações difundidas, em lugar das mudanças prometidas, e graças a quem só esperava razões de medo.


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