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QUATRO ANOS DE LULA
No Brasil de Lula a mudança foi de Lula
JANIO DE FREITAS
COLUNISTA DA FOLHA
ENTRE AS POSSÍVEIS maneiras de caracterizar o primeiro governo Lula, uma dá o sentido de todas: é o exótico caso do governo que encheu de decepção os mais esperançosos eleitores da história nacional e, no mesmo compasso,
agraciou com as melhores surpresas, inclusive materiais, a nata
econômica e social que até então mantivera Lula no pelourinho
político. Nada do que Luiz Inácio Lula da Silva disse ou fez, desde a projeção como líder sindical até o dia seguinte ao discurso
de posse, combina com o seu governo. De um modo ou de outro,
em menor ou em maior grau, os governos em geral refletem o
governante. O Brasil que inventou uma capital em menos de um
mandato, hidrelétricas imensas, estradas infindáveis, cultura
efervescente, era espelho do Juscelino de otimismo audacioso,
determinado, alheio a ônus futuros, "Nonô Pé-de-Valsa", sorriso farto no rosto, passadas confiantes. Juscelino não é exemplificação extrema, é apenas mais fácil. Extremo é Lula, que foge à
regra. Como seu governo fugiu ao esperado. Ou a si mesmo. Ou
ao próprio Lula. A fisionomia do primeiro governo Lula, amarfanhada, contraditória, com partes inertes e outras implantadas, resulta do mau convívio entre três Lulas, que antes de sua
chegada ao poder não se imaginaria serem senão um, como convém aos criadores de governos coerentes, lúcidos e profícuos
-os bons governos. O Lula como pessoa, o Lula político e o Lula
como presidente são incapazes de explicar, cada um por si, o primeiro governo seu. Neles, porém, encontram-se as matrizes que
moldaram as frustrações difundidas, em lugar das mudanças
prometidas, e graças a quem só esperava razões de medo.
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